POLÍCIA CIVIL

O que se sabe sobre a operação que mirou uma rede hoteleira do PCC em SP

Os hotéis localizados na República, Sé, Santa Cecília e Santa Ifigênia foram palco de um terço das apreensões de crack na cidade e 11% delas em todo o Estado

Viatura da Polícia Civil de São Paulo.Créditos: Divulgação/SSP-SP
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O Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil de São Paulo deflagou nesta quinta-feira (13) a segunda fase da Operação Downtown, que mira uma rede hoteleira com 78 estabelecimentos gerida pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), a facção criminosa hegemônica no Estado.

As investigações ficaram a cargo da 4ª Delegacia da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (Dise), vinculada ao Denarc. Os investigadores descobriram que a facção adquiriu 78 hotéis no centro de São Paulo. Entre eles, 26 são estabelecimentos clandestinos. Em todos eles havia denúncias de tráfico de drogas ou de prostituição.

Os hotéis estão todos na região central da cidade, em localidades como o Largo do Arouche, o Largo do Paissandu, as avenidas São João e Duque de Caxias e as praças Princesa Isabel e Marechal Deodoro. De acordo com a polícia, a rede hoteleira expandiu os negócios da facção e a própria presença da cracolândia para essas localidades.

A operação cumpriu 124 mandados de busca e apreensão, interditou as 26 hospedagens clandestinas, bloqueou 28 contas bancárias e prendeu 15 acusados de participar do esquema, 5 deles já eram foragidos. Também foram apreendidos 38 celulares e 30 quilos de drogas, entre cocaína, crack e skunk (uma versão mais potente da maconha). Em dinheiro vivo foram apreendidos R$ 27,5 mil. As diligências contaram com o apoio da Guarda Civil Metropolitana, além de 600 policiais civis.

O delegado Fernando José Santiago é o responsável pelas investigações. Ele explicou para a imprensa que a rede de hotéis é justamente aquilo que sustenta o modelo de negócios do narcotráfico no centro de São Paulo. A conclusão foi tirada após um cruzamento de dados de apreensões. Os hotéis localizados na República, Sé, Santa Cecília e Santa Ifigênia foram palco de um terço das apreensões de crack na cidade e 11% delas em todo o Estado.

De acordo com o inquérito, os estabelecimentos foram colocados em nome de laranjas, pessoas humildes e em muitos casos viciados em drogas. O Estadão levantou o caso de Genário José de Oliveira, um desses laranjas. Ele é o porteiro do Hotel dos Andradas e está inscrito como o dono de uma outra hospedaria. Há ainda outros exemplos como este que para a polícia indicam esquemas de lavagem de dinheiro.

Além disso, a polícia apurou que as aquisições dos hotéis começaram a partir de 2021 quando a Prefeitura realizou uma série de operações na cracolândia que espalhou os usuários pelo centro. A facção então passou a adquirir antecipadamente os hotéis nos pontos para onde o fluxo acabaria se movendo.

Ainda, a facção seria a responsável por controlar o fluxo dos dependentes. Durante o dia, enquanto os comércios da Santa Ifigênia estão abertos, os usuários ficam na Rua dos Protestantes. À noite, com as lojas fechadas, ficam liberados para adentrar o bairro. Por fim, ainda funcionaria na região o chamado "tribunal do crime" que determina, entre outras coisas, a internação compulsória de usuários nos estabelecimentos da facção.