Em uma década, de 2013 a 2023, eventos climáticos levaram 94% dos municípios brasileiros, isto é, 5.233 de um total de 5.570, a declarar situação de emergência ou calamidade pública, segundo um estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Durante esse período, foram emitidos 64.742 decretos desse tipo em todo o país, impactando 418 milhões de pessoas. Em média, isso equivale a afetar duas vezes a população total do Brasil.
Esses detalhes foram revelados em um vídeo produzido pela CNM e apresentado no terceiro dia da Marcha dos Prefeitos, que ocorreu em Brasília de 20 a 23 deste mês. No período em questão, os desastres resultaram em 2.667 fatalidades e prejuízos de R$ 639,4 bilhões ao Estado, dos quais R$ 81 bilhões foram para as prefeituras, segundo a pesquisa. Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, afirma que os fundos federais destinados a ações de defesa civil, gestão de riscos, prevenção, resposta, reabilitação e reconstrução também ficaram muito aquém do necessário.
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Ao longo desse tempo, “o governo federal autorizou R$ 9,5 bilhões, nesses anúncios ao longo desses anos de todos os governos, e o que foi pago foi R$ 3 bilhões”, disse ele. O estudo ainda revela que a grande maioria das cidades brasileiras está desamparada na luta contra os desastres ambientais.
Mais de dois terços (68,9%) dos municípios entrevistados afirmaram nunca ter recebido nenhum tipo de repasse, seja federal ou estadual, para ações de prevenção de eventos climáticos extremos, como secas, inundações, alagamentos e deslizamentos de terra. A pesquisa "Emergência Climática" contemplou 3,5 mil cidades brasileiras. As entrevistas com os respondentes foram realizadas entre 1º de dezembro de 2023 e 24 de janeiro de 2024.
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De acordo com a CNM, considerando que 94% dos municípios foram impactados ao menos uma vez por desastres ambientais desde 2013, é imperativo estabelecer, “ações integradas entre os entes federados nas ações de prevenção e gestão de riscos e desastres”.
Crise climática gera altos custos
O custo das mudanças climáticas para a economia global pode chegar a 22 bilhões de dólares por ano, afetando de maneira desigual os países, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgados em fevereiro deste ano. Para o Brasil, foram calculadas perdas de 2,6 bilhões de dólares.
As projeções do Banco Mundial são ainda piores e apontam que, até meados do século, os danos globais podem chegar a 38 trilhões de dólares por ano até 2049 devido a temperaturas crescentes, chuvas mais intensas e eventos climáticos extremos mais frequentes. No contexto brasileiro, a instituição observa que isso se traduz em desafios significativos para a economia, especialmente em setores como agricultura e energia.
Além disso, estudos indicam que os custos para mitigar e adaptar às mudanças climáticas são menores do que os danos econômicos previstos se nenhuma ação for tomada. Leia mais nesta matéria da Fórum.
O aumento da ansiedade climática
As consequências da crise climática vão além do meio ambiente, afetando diretamente a saúde mental da população que a enfrenta, segundo pesquisas da Harvard Health Publishing. Embora muito pouco discutida, a ansiedade climática está sendo incorporada como um conceito para entender a saúde mental de pessoas prejudicadas pelas mudanças climáticas. Caso que vem se intensificando no Rio Grande do Sul com as novas previsões de chuvas e alagamentos para a região.
Em entrevista à Fórum, o psicólogo de Porto Alegre, Fábio Dal Molin, afirma que a ansiedade em si é uma reação natural do corpo frente a situações de perigo iminente. “As catástrofes climáticas são situações extremas semelhantes à das guerras. Isso pode ser chamado de ansiedade climática. É a reação psíquica e fisiológica a situações traumáticas extremas”. Segundo ele, a ansiedade é um transtorno que mexe com a humanidade desde o início de eventos traumáticos marcantes, como proliferação de pragas, doenças, despertar de conflitos e guerras. Leia mais nesta reportagem da Fórum.