Os desastres climáticos provocaram mais deslocamentos do que as guerras e repressão no último ano, de acordo com o Relatório Global sobre Deslocação Interna de 2024, divulgado nesta terça-feira (14) pela Organização Internacional de Migrações (OIM).
O documento mostra que em 2023 o número de deslocamentos internos em razão de conflitos e violências foi da ordem de 20,5 milhões, enquanto os provocados por eventos climáticos extremos foi de 26,4 milhões - representando 56% do total de deslocamentos.
Te podría interesar
"Terremotos, tempestades, inundações e incêndios florestais destruíram um grande número de casas, forçando ainda mais pessoas a permanecerem deslocadas no final do ano. Na ausência de soluções duradouras para o deslocamento, o número provavelmente continuará a aumentar", afirma a organização.
Somente no ano passado, quase 47 milhões de novos deslocamentos internos foram registrados, seja por motivo de guerra, conflitos ou eventos climáticos. No final do ano, o total de pessoas nessa situação chegava a 75,9 milhões. Em 2022, o número foi de 71,1 milhões. Para o diretor-geral adjunto da OIM, Ugochi Daniels, o número revela uma "história angustiante".
Te podría interesar
“Este relatório é um lembrete claro da necessidade urgente e coordenada de expandir a redução do risco de desastres, apoiar a construção da paz, garantir a proteção dos direitos humanos e, sempre que possível, prevenir o deslocamento antes que aconteça", afirmou o diretor.
Um deslocamento interno é um movimento forçado registrado durante o ano. A mesma pessoa pode ser forçada a se mover diversas vezes e, na contagem, a organização considera cada deslocamento.
O relatório cita diversos exemplos de eventos extremos que provocaram os deslocamentos forçados e, entre eles, estão as recorrentes enchentes no Rio Grande do Sul, como a atual, que já se constitui como a pior tragédia climática da história do estado e deve fazer parte do futuro levantamento referente a 2024.
"Os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná estão nas regiões subtropicais sul do país e foram afetados por chuvas recordes em outubro e novembro, desencadeando mais de 183.000 deslocamentos. O rio Jacuí, que passa por várias grandes cidades, estourou suas margens, inundando ruas, danificando infra-estruturas e provocando muitos municípios a declarar um estado de emergência. A chegada do El Niño acredita-se que tenha aumentado a intensidade da tradicional estação chuvosa da região", diz um trecho do relatório.
Entre as principais situações de deslocamento em 2023 estão o terremoto na Turquia e na Síria, que provocou 4,7 milhões de deslocamentos; as inundações no Chifre de África após anos de seca extrema (2,9 milhões); e os incêndios florestais registrados no Canadá e na Grécia.
Deslocamentos por guerras e repressão
Apesar do aumento no número de deslocamentos causados por eventos climáticos extremos, o número de pessoas deslocadas devido a guerras e repressão ainda é extremamente mais alto. O relatório aponta que em 2023 do total de 75,9 milhões de pessoas deslocadas, 68,3 milhões foram forçadas a fugir em razão da violência e repressão.
A organização ressalta os conflitos no Sudão, que representaram quase 30% dos deslocamentos, e na Palestina (17%), como os que forçaram milhões de pessoas a fugir somando-se às dezenas de milhões que já viviam deslocadas devido a conflitos em curso ou anteriores.