REFUGIADOS CLIMÁTICOS

Desastres climáticos provocaram mais deslocamentos do que guerras em 2023

Relatório da Organização Internacional de Migrações reforça urgência de ações globais para mitigar os efeitos da crise climática

Porto Alegre inundada.Créditos: Gustavo Mansur/Palácio Piratini
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Os desastres climáticos provocaram mais deslocamentos do que as guerras e repressão no último ano, de acordo com o Relatório Global sobre Deslocação Interna de 2024, divulgado nesta terça-feira (14) pela Organização Internacional de Migrações (OIM).

O documento mostra que em 2023 o número de deslocamentos internos em razão de conflitos e violências foi da ordem de 20,5 milhões, enquanto os provocados por eventos climáticos extremos foi de 26,4 milhões - representando 56% do total de deslocamentos

"Terremotos, tempestades, inundações e incêndios florestais destruíram um grande número de casas, forçando ainda mais pessoas a permanecerem deslocadas no final do ano. Na ausência de soluções duradouras para o deslocamento, o número provavelmente continuará a aumentar", afirma a organização.

Somente no ano passado, quase 47 milhões de novos deslocamentos internos foram registrados, seja por motivo de guerra, conflitos ou eventos climáticos. No final do ano, o total de pessoas nessa situação chegava a 75,9 milhões. Em 2022, o número foi de 71,1 milhões. Para o diretor-geral adjunto da OIM, Ugochi Daniels, o número revela uma "história angustiante".

“Este relatório é um lembrete claro da necessidade urgente e coordenada de expandir a redução do risco de desastres, apoiar a construção da paz, garantir a proteção dos direitos humanos e, sempre que possível, prevenir o deslocamento antes que aconteça", afirmou o diretor.

Um deslocamento interno é um movimento forçado registrado durante o ano. A mesma pessoa pode ser forçada a se mover diversas vezes e, na contagem, a organização considera cada deslocamento.

O relatório cita diversos exemplos de eventos extremos que provocaram os deslocamentos forçados e, entre eles, estão as recorrentes enchentes no Rio Grande do Sul, como a atual, que já se constitui como a pior tragédia climática da história do estado e deve fazer parte do futuro levantamento referente a 2024.

"Os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná estão nas regiões subtropicais sul do país e foram afetados por chuvas recordes em outubro e novembro, desencadeando mais de 183.000 deslocamentos. O rio Jacuí, que passa por várias grandes cidades, estourou suas margens, inundando ruas, danificando infra-estruturas e provocando muitos municípios a declarar um estado de emergência. A chegada do El Niño acredita-se que tenha aumentado a intensidade da tradicional estação chuvosa da região", diz um trecho do relatório.

Entre as principais situações de deslocamento em 2023 estão o terremoto na Turquia e na Síria, que provocou 4,7 milhões de deslocamentos; as inundações no Chifre de África após anos de seca extrema (2,9 milhões); e os incêndios florestais registrados no Canadá e na Grécia.

Deslocamentos por guerras e repressão

Apesar do aumento no número de deslocamentos causados por eventos climáticos extremos, o número de pessoas deslocadas devido a guerras e repressão ainda é extremamente mais alto. O relatório aponta que em 2023 do total de 75,9 milhões de pessoas deslocadas, 68,3 milhões foram forçadas a fugir em razão da violência e repressão.

A organização ressalta os conflitos no Sudão, que representaram quase 30% dos deslocamentos, e na Palestina (17%), como os que forçaram milhões de pessoas a fugir somando-se às dezenas de milhões que já viviam deslocadas devido a conflitos em curso ou anteriores.