CRISE CLIMÁTICA

"É essencial politizar as consequências da crise climática", reforça especialista

Graziela Souza, coordenadora da organizacão 'Clima de Eleição', fala à Fórum sobre a importância de contextualizar eventos climáticos como o do Rio Grande do Sul

Organizações populares em protesto contra ameaças socioambientais aprovadas no Congresso.Créditos: Paulo Pinto/Agência Brasil
Escrito en POLÍTICA el

Após a tragédia climática no Rio Grande do Sul um discurso fraudulento que viralizou foi de que "não era hora de apontar os culpados", justamente no momento em que ativistas pelo clima expunham políticos que votaram a favor de pautas anti-ambientais, e o próprio governador Eduardo Leite (PSDB) que impôs um desmonte ambiental no estado

Do outro lado, esses mesmos ativistas reforçaram que a melhor hora para trazer o debate político sobre meio ambiente era agora, já que o foco nacional estava nas consequências da crise climática

Em entrevista à Fórum, Graziela Souza, cientista política e coordenadora de relações governamentais da organização Clima de Eleição, explica a importância de politizar a crise climática não só no Rio Grande do Sul, mas em um contexto geral. 

"É essencial que a gente politize as consequências das mudanças climáticas, porque se a gente não politizar, entramos num lugar sem saída. Se a gente não politiza, não tem tomador de decisão, não tem solução, não tem política pública climática, não tem nada", diz Souza. 

A exemplo do Rio Grande do Sul, a coordenadora ressalta a falta de ação política mesmo diante de avisos meteorológicos.

"O Brasil não carece de sistemas de monitoramento climático, ao contrário, temos organizações muito sérias, sejam públicas ou privadas. O próprio Rio Grande do Sul tem uma boa capacidade de monitorar a anormalidade climática", destaca.

No entanto, Souza demonstra que o diagnóstico sobre o Rio Grande do Sul nos últimos anos aponta que ao invés dos governantes terem se unido aos órgãos de monitoramento e desenvolvido políticas de adaptação e mitigação climática, entregaram uma série de desmontes em legislações ambientais.

"Se a gente for pegar um passado recente, vemos que o Rio Grande do Sul teve enchentes em 2020, 2021, 2022, 2023 e agora de forma exorbitante em 2024. Temos sistemas de monitoramento climático eficazes e já sabemos que o Rio Grande do Sul é um estado que tem muitos rios e por isso é muito vulnerável em relação a enchentes. Mesmo assim, a postura tanto do Legislativo quanto do Executivo foi de desmonte do restante de política ambiental que restava", pontua.

Além disso, os órgãos de monitoramento climático ainda são transformados em "profetas do caos" pelos políticos negacionistas, segundo a coordenadora.

Souza reforça a politização dos efeitos da crise climática como uma forma de encarar que, enquanto tomadores de decisão, os políticos podem e devem tomar atitudes para mitigar os eventos extremos. "Esse tipo de discurso não beneficia em nada porque não nos faz saber quem são as pessoas culpadas e não nos direciona à ação", acrescenta.

"Apontar o dedo na cara dos governantes é apontar também o que eles podem fazer daqui pra frente, porque quem pode fazer alguma coisa é literalmente o poder público", afirma.

Eleições municipais de 2024

Uma esperança de muitos ativistas climáticos é de que, finalmente, a pauta ambiental entre para as pautas de debate e cobrança dos eleitores após a tragédia no Rio Grande do Sul comover todo o país e escancarar a gravidade da crise climática

As eleições municipais se colocam como uma das mais importantes nessa questão, uma vez que é imprescindível a atuação dos prefeitos na construção de planos de mitigação e adaptação climáticas nas cidades.

Nesse sentido, Souza diz que é um desejo da organização Clima de Eleição que as pessoas se interessem mais pelo assunto das mudanças climáticas e isso mobilize voto responsavéis. Por outro lado, a coordenadora reconhece que a falta de interesse pelo tema é um problema histórico no país, não só de governantes mas também do eleitorado.

"Tem uma crença muito forte no Brasil de que a gente tem vários problemas que temos que resolver antes, como a fome e o desenvolvimento econômico, e então depois a gente olha para o clima. Porém, é essencial que a gente destaque que as mudanças climáticas impactam em vários eixos da sociedade, inclusive o aumento da fome, porque diminui a quantidade de alimentos e os encarece", destaca Souza.

Por isso, a coordenadora defende que é essencial ressaltar para a população que há questões econômicas e políticas nas mudanças climáticas e que seus impactos não ficam restritos à pauta ambiental. Além disso, outro trabalho é o combate ao negacionismo divulgado pela extrema direita.

"Não é tarefa fácil e tudo depende de como a gente se mobiliza, mas eu diria que esperamos que de fato a pauta ambiental apareça nas eleições municipais, que são tão importantes quanto estaduais e Federal", conclui.