O julgamento dos réus confessos, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes. foi finalizado na tarde desta quinta-feira (31), com a condenação dos dois ex-PMs.
No primeiro dia do julgamento, na quarta (30), Lessa e Queiroz deram detalhes do planejamento da execução da parlamentar. O primeiro a falar foi Lessa, que está preso desde 2019 no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e participou por videoconferência.
Te podría interesar
O ex-sargento reformado da Polícia Militar revelou que o primeiro plano era assassinar o então deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), que trabalhou por mais de dez anos com Marielle. Ele recebeu a proposta do ex-PM Edmilson de Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, mas recusou afirmando que seria uma “loucura”.
Meses depois, foi novamente procurado por Macalé, mas dessa vez com a proposta de executar a vereadora Marielle Franco, pois a parlamentar estaria atrapalhando a venda de loteamentos na zona oeste do Rio de Janeiro. Em janeiro deste ano, em delação premiada, Lessa revelou detalhes sobre o principal motivo para o assasinato da vereadora, que teria sido a questão fundiária na região.
Te podría interesar
Em seguida, foi a vez de Élcio de Queiroz depor, também por videoconferência. Ele está preso no Complexo da Papuda, em Brasília. Queiroz afirmou que Lessa lhe contou que estava envolvido em um plano de execução na virada de 2017 para 2018, mas que só havia sido convidado a participar um dia antes do crime. Ele acrescentou que não conhecia a vereadora.
Além do júri e autoridades, acompanharam o depoimento como testemunhas a assessora Fernanda Chaves, única sobrevivente do crime; Marinete da Silva, mãe de Marielle; Monica Benicio, viúva da vereadora; Ágatha Reis, viúva de Anderson; uma perita criminal e dois agentes da Polícia Civil.
LEIA TAMBÉM: VÍDEO: O momento em que os pais de Marielle chegam ao julgamento de Lessa e Queiroz
Após seu depoimento, Lessa pediu perdão às famílias de Marielle e Anderson e declarou que estava tentando trazer à tona todos os envolvidos para tirar um peso de sua consciência. Na declaração, ele disse ter perdido o pai recentemente e que, com esse ocorrido, sentiu necessidade de pedir desculpas. O pedido gerou forte reação dos familiares e tanto a filha de Marielle, Luyara Santos, quanto a viúva de Anderson deixaram o local em lágrimas.
A irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, comentou sobre a frieza dos réus ao relatarem detalhes do crime. Para ela, é "como se estivessem rasgando uma folha de papel".
"Cada foto, cada áudio, cada depoimento marca muito a gente. A maneira como os assassinos relatam sobre os detalhes (do crime), como se estivessem rasgando uma folha de papel , isso mexeu muito com a gente", disse.
O Ministério Público pediu pena máxima, de 84 anos, para os dois réus, enquanto a defesa de Lessa e Queiroz falou em "pena justa". O promotor de Justiça Fábio Vieira classificou o arrependimento dos réus como uma "farsa", e defendeu que os dois estariam tristes apenas porque foram pegos.
"O que vocês viram ontem no interrogatório dos dois foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de tristeza, estão com uma tristeza de terem sido pegos. Porque ninguém foi lá bater na porta da DH (Delegação de Homicídios), quando todo mundo queria saber (e disse) "Olha só, fui eu, tá? Estou arrependido disso. Fui eu e fiz dessa forma. Fui eu e quem mandou foi isso". Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com segmentos da polícia, com a Defensoria e tudo mais, chegaram à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugiram disso. (...) estão arrependidos? Não. Porque isso vai beneficiá-los de alguma forma. Isso é uma característica do sociopata. Ele não tem emoção em relação aos outros, não tem sentimento, não tem valores, não tem empatia", disse.
Setença final
Na tarde desta quinta-feira (31), o julgamento chegou ao fim com a condenação de Ronnie Lessa a 78 anos e 9 meses de prisão e Élcio de Queiroz a 59 anos e 8 meses. Eles foram condenados por duplo homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, a assessora de Marielle que sobreviveu ao ataque, e receptação do veículo Cobalt prata, utilizado no crime.
LEIA MAIS: URGENTE: Tribunal do Júri do Rio condena assassinos de Marielle Franco
Siga o perfil da Revista Fórum e da jornalista Júlia Motta no Bluesky.