No primeiro dia do julgamento no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o ex-policial militar Ronnie Lessa confessou ter disparado intencionalmente na cabeça da vereadora Marielle Franco (PSOL) em março de 2018, e pediu desculpas à família das vítimas.
"Tirei um peso das minhas costas confessando o crime, podendo dar uma continuidade a isso para amenizar essa angústia de todos, da sociedade inteira. Se eu puder amenizar isso, estou fazendo o máximo. Vou cumprir o meu papel até o final. Tenho certeza que a Justiça vai ser feita. Hoje é uma parte. Tenho certeza absoluta que ela vai ser feita no STF. Ninguém vai ficar de fora não. É da base ao topo dessa pirâmide, sem exceções. Ninguém vai se safar", diz Lessa.
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Em interrogatório por videoconferência do Complexo Penitenciário de Tremembé (SP), o ex-PM reafirmou que ficou “cego” pela promessa de uma fortuna de R$ 25 milhões, que lhe teria sido oferecida para explorar uma área na zona oeste do Rio. “Apesar de o dinheiro ser sujo, eu ia tentar rebocar as pessoas que eu gosto. Fiquei cego com isso. Era muita grana”, declarou.
Queiroz e Lessa, que firmaram delação premiada com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República, entregaram como mandantes do crime os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. De acordo com ele, a motivação dos acusados era impedir que a vereadora Marielle Franco continuasse a atrapalhar interesses da família Brazão em esquemas de grilagem de terras. Segundo ele, o assassinato representaria o ápice de conflitos entre os Brazão e membros do PSOL.
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Durante o interrogatório, o Ministério Público pediu que o ex-PM evitasse mencionar réus de outros processos. Os irmãos Brazão, que negam envolvimento, respondem em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF). "Com absoluta sinceridade e arrependimento, pedir perdão às famílias do Anderson, da Marielle, à minha própria, à da dona Fernanda [Chaves, sobrevivente do atentado] e a toda sociedade pelos fatídicos atos que nos trazem aqui. Infelizmente não podemos voltar no tempo. Mas hoje eu faço o possível para amenizar essa angústia de todos, assumindo minha responsabilidade e trazendo à tona todos os personagens envolvidos nessa história, de cabo a rabo", afirmou Lessa em interrogatório.
Com expressões de incredulidade, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a viúva Mônica Benício e a filha Luyara Franco assistiram juntas ao pedido de perdão de Ronnie Lessa. De pé, a reação das três revelava a tensão do momento. No auditório, o presidente da Embratur, Marcelo Freixo — para quem Marielle trabalhou como assessora —, assistia ao discurso com os olhos marejados, sentado em silêncio. Do lado de fora, Marinete da Silva, mãe da vereadora, aguardava, distante do palco do auditório.
FOTOS DOS ATOS POR MARIELLE: Atos pedem condenação em julgamento de acusados por assassinato
O júri popular que julga Ronnie Lessa ocorre mais de seis anos após o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Além de Lessa, o ex-policial Élcio de Queiroz também é réu no caso. Ambos estão presos desde março de 2019 e admitiram, em acordos separados de colaboração, serem responsáveis pela execução dos dois.
Assista 1º dia da audiência do TJ-RJ: