Sendo um dos principais importadores globais de agrotóxicos, o Brasil estabelece recordes no consumo dessas substâncias. Uma parcela significativa dos agrotóxicos utilizados no país é originária da União Europeia, sendo categorizada como altamente perigosa. A informação é de um estudo conduzido pelo Atlas dos Agrotóxicos em dezembro do ano passado.
Em 2010, o Brasil registrou um consumo total de 384.501 toneladas de agrotóxicos, de acordo com a pesquisa. Esse volume apresentou um crescimento constante ano após ano, alcançando a marca de 720.870 toneladas no ano de 2021, um aumento significativo de 87% ao longo de doze anos. O aumento no consumo de agrotóxicos está primariamente vinculado à expansão da área destinada ao cultivo dessas culturas, voltadas para a criação animal e a produção de etanol.
Te podría interesar
O país, sendo o principal exportador global de soja, carne bovina, carne de frango e açúcar, além de ocupar a posição de segundo maior exportador mundial de grãos, contribui significativamente para esse cenário. No entanto, o problema está na comercialização. Além do aumento no volume de agrotóxicos consumidos nos últimos anos, é relevante notar que entre os dez agrotóxicos mais comercializados no país em 2021, quatro deles são proibidos na União Europeia.
UE envia defensivos proibidos para o Brasil
São eles: Mancozebe, Clorotalonil, Atrazina e Acefato ocupam, respectivamente, as posições de 3º a 6º lugar no ranking de vendas. Várias nações têm recebido agrotóxicos de fora e o Brasil não está fora da lista. A União Europeia vende o veneno para os países Mercosul ((Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), que é então usado nos alimentos desses países.
Te podría interesar
Crianças, bebês e gestantes são os principais alvos. Aproximadamente 15% da população intoxicada por agrotóxicos no país compreende pessoas com idade entre 1 a 19 anos. Inclusive, isto é, bebês de meses a 1 ano têm sido vítimas de envenenamento por agrotóxicos, registrando 542 casos no período de 2010 a 2019.
Problemas de saúde
Estudos desenvolvidos por diferentes pesquisadores brasileiros apontam para o aumento de casos de aborto espontâneo em mulheres que realizam essas funções ou residem em locais onde o uso de agrotóxicos é intenso. Já outros estudos também demonstram a presença de agrotóxicos no leite materno de gestantes nas mesmas condições. Leia mais nesta matéria produzida pela Fórum.
LEIA TAMBÉM: Agrotóxicos: os riscos à saúde que o consumo prolongado provoca
No período de 2010 a 2019, houve 56.870 casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil, resultando em uma média de 5.687 casos por ano ou aproximadamente 15 pessoas diariamente, como indica a pesquisadora Larissa Bombardi no livro “Agrotóxicos e colonialismo químico”. As principais culturas que consomem agrotóxicos no Brasil são as commodities, sendo a soja a cultura mais dependente dessas substâncias, representando 54% do volume de mercado.
10,9 quilos de agrotóxicos por hectare
O país também se destaca como líder global no uso de agrotóxicos por área, registrando um consumo de 10,9 quilos por hectare em 2021. Essa cifra é mais de três vezes superior à dos Estados Unidos (2,8 quilos por hectare) e mais que o dobro da Itália (5,4 quilos por hectare), conforme relatórios da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).
Entre os agrotóxicos, o glifosato, liberado no governo Bolsonaro durante quatro anos, está como a mais cancerígena da lista. Foi constatado que o Brasil permite quantidades de glifosato maiores na água em relação à União Europeia. Enquanto aqui são permitidos 500 microgramas por litro, nos países europeus, por litro, é liberado apenas 0,1 micrograma, o que revela uma quantidade 5 mil vezes maior de autorização da substância tóxica no Brasil. Leia mais nesta matéria produzida pela Fórum.