DOENÇAS

Agrotóxicos: os riscos à saúde que o consumo prolongado provoca

Pelo menos 25% dos alimentos consumidos apresentam agrotóxicos em quantidades maiores às permitidas ou com substâncias proibidas, segundo a Anvisa

Frutas e legumes concentram os principais índices de contaminação por agrotóxicos.Créditos: Fernando Frazão/Agência Brasil
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Agrotóxicos consistem em substâncias químicas sintéticas empregadas com o propósito de eliminar insetos, larvas, fungos e carrapatos. A justificativa por trás de seu uso é o controle das doenças disseminadas por esses vetores e a regulação do crescimento da vegetação, tanto em ambientes rurais quanto urbanos. No entanto, a presença prolongada e a absorção de quantidades variadas de agrotóxicos podem desencadear diversas doenças.

A manifestação depende do tipo de produto utilizado, do período de exposição e da quantidade absorvida pelo organismo na alimentação. Funções metabólicas, hormonais e imunológicas geralmente são as mais afetadas, podendo gerar efeitos crônicos e agudos a longo prazo no corpo humano. Além de trazerem danos à saúde de agricultores que lidam diretamente com essas substâncias, o risco é ainda maior para gestantes e crianças.

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Um relatório publicado em dezembro de 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que 25% dos alimentos habitualmente consumidos pelos brasileiros apresentam resíduos de agrotóxicos, seja em quantidades superiores às permitidas ou provenientes de substâncias proibidas. As amostras foram coletadas em supermercados de várias regiões e cidades dos país entre 2018 e 2022.

Segundo um dossiê de agrotóxicos elaborado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), “o uso de um ou mais agrotóxicos em culturas para as quais eles não estão autorizados, sobretudo daqueles em fase de reavaliação ou de descontinuidade programada devido à sua alta toxicidade, apresenta consequências negativas na saúde humana e ambiental, causando problemas neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer (...)”.

Com base em um estudos de universidades e outras pesquisas, a Fórum listou alguns dos males que os agrotóxicos podem ser provocar tanto em trabalhadores rurais quanto na população em geral:

1- Cânceres

O consumo excessivo e prolongado de agrotóxicos nos alimentos já está sendo associado ao aumento do risco de desenvolvimento de cânceres, sendo os mais frequentes os de mama, cerebral, pulmão e próstata. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), pode haver "uma proliferação, benigna ou maligna, descontrolada de células. Se for maligna, é câncer (como leucemia, linfomas, cânceres de mama, testículo, pulmão, etc)."

2- Contaminação do leite materno

A exposição a agrotóxicos também representa um risco de contaminação do leite materno, com potenciais impactos na saúde do recém-nascido. Estudos conduzidos por instituições de ensino superior identificaram a presença significativa de substâncias agrotóxicas em amostras de leite materno. A pesquisa, realizada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), na cidade de Palmas, coletou amostras de leite de 62 lactantes entre a segunda e a oitava semana pós-parto. A maioria das doadoras (95%), com idade média de 26 anos, incluindo 30% primíparas residentes na zona urbana, apresentou pelo menos um tipo de agrotóxico nas amostras analisadas.

3- Intoxicação de trabalhadores rurais

Além das implicações de longo prazo para a saúde, dados revelam um aumento anual nos casos de intoxicação por agrotóxicos. No período de 2007 a 2017, conforme o último levantamento oficial do Ministério da Saúde, foram notificados aproximadamente 40 mil casos de intoxicação aguda, resultando em quase 1.900 óbitos. O estado do Paraná, como o segundo maior produtor de grãos do país, destaca-se por apresentar o maior número de casos relatados.

4- Doenças cardíacas, motoras e impacto nos órgãos

 O glifosato, um dos agrotóxicos amplamente empregados - principalmente durante os quatro anos do governo Bolsonaro; é identificado como um agente capaz de desencadear doenças cardíacas. Sua utilização está associada a uma disfunção que, em estágios posteriores, pode progredir para insuficiência cardíaca, assim como para insuficiência renal. Doença de Parkinson, leucemia e alterações hormonais também são citadas em estudos relacionados.