ALCOOLISMO

Pesquisa mapeia abuso de álcool no Brasil

Análise feita com método da Organização Mundial da Saúde alerta para dependência na população

Milhões de brasileiros apresentam consumo perigoso de álcool.Créditos: Pixabay
Escrito en BRASIL el

Uma análise feita através de um órgão nacional por meio de método da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que 6 milhões de brasileiros têm um consumo perigoso de bebidas alcoólicas, com risco de dependência. O estudo faz um mapeamento do abuso de álcool no país.

Esse risco predomina entre os homens (6,6% contra 1,7% entre as mulheres), pessoas entre 45 e 54 anos (6,9%), com 9 a 11 anos de estudo (5%), residentes das regiões Centro-Oeste e Norte (6,8%) e pretos e pardos (4,7%).

Os dados foram extraídos do Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), que analisou 9.000 brasileiros adultos, de janeiro a abril de 2023, em relação aos principais fatores de risco para doenças crônicas.

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O estudo avaliou três aspectos: episódio de consumo abusivo, frequência semanal de consumo e risco ou traição de dependência. Para esse último item, os pesquisadores aplicaram um instrumento de avaliação da OMS chamado Audit (Teste de Identificação de Distúrbios no Consumo do Álcool, na sigla em inglês).

O Covitel foi desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas), com financiamento da Umane , uma associação civil sem fins lucrativos que apoia projetos em saúde pública.

O teste

Com uma escala de dez itens, o teste faz algumas perguntas, como se uma pessoa já se envolveu em briga ou acidente de trânsito, ou se não conseguiu realizar alguma atividade devido ao consumo do álcool. 

A confirmação da dependência, porém, só pode ser feita por um profissional de saúde.

Imagem ilustrativa. Foto: Canva Imagens

Resultados

Pouco mais de um quinto da população adulta (22%) relata consumo abusivo de álcool (a partir de quatro doses em uma mesma ocasião para mulheres e cinco doses para homens) nos 30 dias anteriores à entrevista para a pesquisa.

As prevalências desse consumo abusivo foram encontradas em homens (28,9%), entre os jovens de 18 a 24 anos (32,6%) e na população de maior escolaridade, com mais de 12 anos de estudo (26,5% ).

A gerente sênior da área de doenças crônicas não transmissíveis da Vital Strategies no Brasil, Luciana Sardinha, alerta para o fato dos jovens entre 18 e 24 anos já apresentarem um consumo abusivo do álcool, com risco de dependência muito elevado em comparação ao de pessoas acima dos 65 anos 4,8% contra 0,7%.

Daqui a 10, 15 anos, este jovem estará no auge do seu momento de trabalho, da sua vida produtiva, e já está com esse consumo de risco”, diz ela. Não é possível comparar esse comportamento com as pesquisas anteriores porque é a primeira vez que o método é aplicado de forma em amostra representativa da população.

Segundo Fernando Wehrmeister, professor associado da UFPel, outras pesquisas mostram que, apesar dos jovens beberem menos durante uma semana, quando bebem, aos finais de semana, exageram.

Imagem ilustrativa. Foto: Canva Imagens

Ainda de acordo com a pesquisa: 

  • 21,7%, ou 13,8 milhões dos consumidores de álcool sentiram culpa por ter bebido nos 12 meses antes da pesquisa;
  • 8,9 milhões (14,1%) tiveram a percepção de que não conseguiriam realizar atividades devido ao álcool nos 12 meses antes da pesquisa;
  • Quase 6 milhões (9,3%) disseram ter precisado beber ao acordar para “curar” a ressaca.

Perda de memória

A pesquisa revela que 33,2% dos jovens entre 18 e 24 anos não se lembraram do que aconteceu após uma bebedeira pelo menos uma vez no último ano. Na população em geral, o índice foi de 21,7% (13,8 milhões). Desses, 2,6% se sentem assim todos os dias e 9,2%, pelo menos uma vez por mês.

"Há uma série de coisas embutidas nesse 'não lembrar do que fez por conta da bebida'. Tem a questão da violência, as doenças sexualmente transmissíveis, o beber e dirigir, coisas muito sérias", salienta Sardinha.

Agressão

Um problema importante em relação ao consumo excessivo de álcool é a agressão física que algumas pessoas podem cometer. Os resultados apontam que 3,5 milhões dos brasileiros (5,6%) já feriram alguém ou se feriram após ter bebido. A maior prevalência está na faixa etária entre 25 e 34 anos —6,9% já teve esse comportamento pelo menos uma vez na vida.