Para algumas pessoas os sintomas de uma ressaca, como cansaço físico, o coração disparado e o estômago ácido, podem durar dois ou três dias. Esse é o tema da pesquisa de especialistas de diferentes universidades dos EUA, que se dedicam a entender o que provoca uma ressaca fora do padrão de 24 horas.
É fato que quanto mais álcool uma pessoa bebe, maior a probabilidade de a ressaca durar. Porém, o psiquiatra da Universidade de Stanford especialista no assunto, Emmert Roberts, afirma que existem pessoas predispostas a ressacas que duram por mais de um dia, mesmo quando ingerem quantidade moderada de álcool.
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Para entender o motivo, cientistas estão trabalhando nesse “território ligeiramente desconhecido”. Segundo Roberts, "tem havido uma escassez de pesquisas sobre ressaca em geral", disse em entrevista à Folha de S. Paulo.
Porém, algumas coisas já foram desvendadas: as pessoas mais propensas a sentir os efeitos colaterais depois de uma grande noite de bebedeira são as que bebem com muita frequência e as que raramente o fazem.
O primeiro grupo pode estar familiarizado com a agonia que se instala quando seu corpo se esforça para processar toda aquela bebida, porém, a professora de psicologia clínica da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Lara Ray, alerta que o que você considera uma ressaca pode, na verdade, ser o início de uma grave abstinência alcoólica.
Sintomas de abstinência alcoólica
Para o especialista em medicina de dependência do Central DuPage Hospital na Northwestern Medicine, Anthony T. March, é importante saber a diferença entre a ressaca e a abstinência.
Se você vomitar persistentemente e não conseguir manter os líquidos no estômago, tiver diarreia com frequência, sentir confusão ou mesmo alucinações leves, ou se sua pele estiver ficando azulada, você pode ter uma forma grave de abstinência alcoólica e deve ir ao pronto-socorro o mais rápido possível.
A ressaca duradoura no segundo grupo
Uma hipótese para a ressaca mais longa em pessoas que não têm costume de beber é que o fígado pode não estar condicionado a produzir acetaldeído, explica a doutora Ray. Isso significa que seus sintomas de ressaca podem persistir.
A idade também é outro fator considerável, já que o fígado de uma pessoa idosa pode levar mais tempo para metabolizar o álcool, disse Ray.
Além disso, a especialista também afirma que medicamentos como os ISRS (inibidores seletivos de recaptação de serotonina, incluindo Zoloft) podem interagir com o álcool, levando potencialmente a sintomas de ressaca mais prolongados.
Para um terceiro grupo, de pessoas que têm a ressaca longa mesmo bebendo moderadamente, as teorias são as seguintes: elas podem ser geneticamente predispostas a ressacas mais severas, disse o doutor Roberts.
É possível que haja uma reação anormalmente intensa à maneira como a bebida aumenta o açúcar no sangue, o que pode causar dores de cabeça intensas.
Outra hipótese é que o sistema imunológico pode estar lutando para se defender do álcool, tóxico para o corpo humano, o que pode exacerbar e prolongar a sensação geral de mal-estar.
Outros fatores biológicos também podem contribuir. "Algumas pessoas são muito sensíveis à cerveja por causa do fermento; outras são sensíveis a vinhos diferentes por causa dos sulfitos", disse o doutor March. "É altamente pessoal e difícil de prever."
Como evitar a ressaca
A principal orientação é beber com moderação, já que quanto mais bêbada a pessoa fica, mais intensa é a ressaca. Outra instrução é a sabedoria convencional de intercalar o álcool com copos de água.
O tipo de bebida ingerida também importa: tequila, uísque e drinks mais escuros contêm compostos chamados congêneres, que são mais propensos a causar ressacas mais duradouras devido à forma como são metabolizados.
Agora, se o leitor tiver ressacas de vários dias por beber em excesso, isso pode ser um sinal de consumo problemático de álcool. A doutora Ray recomenda um guia do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e Alcoolismo, "Rethinking Drinking" [Repensando a bebida], que pode ajudar a avaliar se o hábito de beber se tornou um problema.
"Nesse caso a pessoa tem que dar um passo para trás e pensar: 'Se estou apagando duas, três, quatro vezes por mês, estou realmente estressando meu sistema e estou causando danos a mim mesmo, além de qualquer sensação de ressaca,'" recomendam os especialistas.