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Vulnerável? Coach do Campari recebeu 16 parcelas de Auxílio Emergencial

Influenciador misógino que ameaçou atriz chega a cobrar até R$ 2.500 por uma única "consultoria", mas recorreu ao programa do governo destinado aos mais pobres durante a pandemia

Thiago Schutz, o "Coach do Campari".Créditos: Reprodução/Instagram
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O autodenominado coach, escritor, palestrante e apresentador Thiago Schutz, que na verdade se chama Thiago da Cruz Schoba e que ficou conhecido, após ser alvo de uma sátira e ameaçar uma atriz, como "Coach do Campari", recebeu 16 parcelas do Auxílio Emergencial durante a pandemia do coronavírus. 

Dono de páginas na internet que compartilham conteúdo misógino, Thiago, apesar de cobrar até R$ 2.500 por uma única "consultoria", recorreu ao programa do governo federal destinado ao socorro dos mais pobres durante a crise sanitária. Ao todo, ele embolsou R$ 4.560 de dinheiro público entre junho de 2020 e outubro de 2021, pago em cinco parcelas de R$ 600, duas de R$ 300 e sete de R$ 150. Os dados são do Portal Transparência. 

Thiago Schutz ganhou destaque no noticiário, nos últimos dias, por conta de sua reação ao ver a sátira feita pela atriz Lívia La Gatto de um vídeo viralizado nas redes sociais no qual ele criticava uma mulher que teria oferecido uma cerveja enquanto ele bebia Campari.

Ao ver a sátira de La Gatto, o coach fez ameaças à integridade física dela. A atriz divulgou um print da mensagem que Schutz a enviou nos stories de seu perfil no Instagram. Schutz exigiu que a atriz e roteirista apagasse o vídeo em que o ironiza: "Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso processo ou bala. Você escolhe", disse em mensagem privada pelas redes sociais da atriz.

Depois das ameaças, La Gatto registrou boletim de ocorrência e bloqueou Schutz no Instagram. O influenciador, por sua vez, se pronunciou afirmando que não usou a palavra bala "no sentido literal" e que "não foi uma ameaça".

Quem é o "Coach do Campari"

Autodenominado escritor, palestrante e apresentador, o coach ganhou notoriedade por discursos machistas e chega a cobrar até R$ 2.500 por uma consultoria. Ele integra o grupo "red pill", formado por homens misóginos que deturpam o conceito do filme Matrix (1999) . 

Hoje, pílulas vermelhas e azuis, da trilogia Matrix, fazem parte do vocabulário da direita e da extrema-direita em todo o mundo. "Red pill" é termo onipresente em grupos masculinistas.

No filme, o protagonista Neo (vivido por Keanu Reeves) ganha duas pílulas e tem de escolher qual tomar: a azul, que permite seguir  em um mundo de ilusões; ou a vermelha, para ganhar consciência sobre a realidade que o cerca.

No vocabulário masculinista, os "red pills" seriam homens que se opõem ao "sistema que favorece as mulheres", por terem alcançado um conhecimento privilegiado sobre isso. Já os "blue pills" continuariam vivendo em ilusão e, portanto, seriam usados pelas mulheres.

Entre pílulas de várias cores, um detalhe irônico: as duas diretoras de "Matrix", as irmãs Wachowski, são mulheres trans. Uma delas, Lilly, chegou a confrontar figuras públicas como Ivanka Trump, Elon Musk e até Abraham Weintraub pelo uso do termo "red pill" em apologia à extrema-direita.