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10 documentários imperdíveis sobre crimes reais para assistir na Netflix

Vale o clichê: a realidade supera a ficção. Nem a mais inventiva imaginação poderia criar alguns dos enredos e personagens destes filmes e séries

Cena do filme "Gênio Diabólico". Foto: reprodução
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CYNARA MENEZES

Não há, em minha opinião, nenhum gênero cinematográfico que distraia mais a cabeça dos problemas cotidianos do que os filmes de suspense.

Meu pai iniciou os filhos neste vício desde a mais tenra infância. Não soa nada apropriado aos olhos de hoje, mas Psicose foi nosso Mary Poppins, nossa Fantástica Fábrica de Chocolate: como ele era um grande fã dessa obra-prima de Alfred Hitchcock, colocava os filhos para assistir junto toda vez que passava na Sessão Coruja. Assistíamos, também tarde da noite, a episódios de Além da Imaginação, versão da clássica série de suspense produzida nos anos 1980, além de qualquer filme de Drácula com Christopher Lee.

Assistir a histórias policiais é extremamente envolvente, não só pelo fascínio que essas mentes criminosas exercem sobre nós, mas por um estranho desejo de ver a justiça sendo feita – porque, ao contrário da ficção, na vida real ela é tão rara...

Desde a pandemia descobri os documentários de crimes reais que passam na Netflix, e vale o clichê: a realidade supera a ficção. Nem a mais inventiva imaginação poderia criar alguns dos enredos e personagens desses filmes e séries. Assistir a histórias policiais é extremamente envolvente, não só pelo fascínio que essas mentes criminosas exercem sobre nós, mas por um estranho desejo de ver a justiça sendo feita – porque, ao contrário da ficção, na vida real ela é tão rara...

Em geral, você começa a assistir a um documentário sobre crimes reais e vai ficando com muita raiva do assassino ou assassina, e da injustiça que em geral se segue ao crime. Em alguns casos, eles continuam sem solução até hoje... Nesta seleção, meus principais critérios foram: crimes que parecem mentira, se possível algum humor envolvido e justiça sendo feita. Uma condição fundamental é a complexidade dos envolvidos: quanto mais complexo e perturbador o criminoso, mais interessante o filme é. Norman Bates que o diga. Assistam e comentem comigo depois.

1. A Lenda da Ilha do Pó

Hilário e inacreditável: homem de família norte-americano, com mulher e filhos, escuta numa roda de amigos que alguém havia enterrado na ilha Culebra, em Porto Rico, uma mala com 30 quilos de cocaína. Endividado, o cara resolve ir com um amigo até lá para desenterrar a mala e vender o pó. Os personagens são tão bizarros que no final do filme eles colocam o aviso: "não, fulano não é um ator contratado, ele é real".

2. O Assassino da Minha Filha

No começo dos anos 1980, a mulher do francês Andre Bamberski se separa dele e vai morar com os dois filhos do casal e o novo marido médico em uma cidade da Alemanha. Um dia, a filha mais velha de Bamberski, de 14 anos, aparece morta e a polícia assegura que foi acidental. O pai não acredita. Está convencido de que o médico estuprou e matou a menina. O filme narra a emocionante cruzada de Bamberski em buscar justiça para a filha. A absurda proteção que o médico tem na sociedade causa indignação, mas aí acontece um plot twist para ninguém botar defeito.

3. Gênio Diabólico

Um homem entra num banco de Erie, na Pensilvânia (EUA), em agosto de 2003, com um colar explosivo preso ao pescoço e entrega um bilhete para o caixa dizendo que, se não receber dinheiro, irá mandar tudo pelos ares. Ele se apresenta como vítima – alguém colocou o artefato nele. Mas quem? A investigação chega a uma mulher estranhíssima, Marjorie Diehl-Armstrong, com um longo histórico de doenças mentais. Terá ela algo a ver com o crime, apontado pelo FBI como um dos mais bizarros que investigaram? O que vai acontecer com o "pizza bomber"?

4. D.B. Cooper: Desaparecimento no Ar

Em novembro de 1971, um cara que se identificou como Dan Cooper sequestrou, nos EUA, um Boeing 727 que fazia o trajeto Portland-Seattle com 36 passageiros a bordo e, ameaçando explodir uma bomba, exigiu o pagamento de 200 mil dólares em dinheiro e quatro paraquedas. O avião desceu em Seattle, os passageiros foram libertados, o dinheiro foi dado a Cooper e o avião voltou a decolar. D.B. Cooper, como ficou conhecido após uma das reportagens errar seu nome, saltou no meio do nada e nunca foi encontrado. O sequestrador de aviões virou uma lenda urbana e já "apareceu" em vários filmes desde então. Mas afinal quem era ele?

5. Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime

O documentário dirigido por Eliza Capai foi a primeira história de "true crime" (crime real) produzida pelos canais de streaming. Conta a história de Elize Matsunaga, que, em 2012, matou e esquartejou o marido, Marcos Matsunaga, herdeiro da fábrica de alimentos Yoki, e foi condenada a 19 anos de prisão. O documentário dá a versão de Elize para o crime, mostrando os abusos psicológicos que ela sofria no casamento.

6. The Staircase

O norte-americano Michael Peterson é um escritor relativamente bem-sucedido quando a mulher dele, Kathleen, morre ao cair de uma escada. A morte é estranha, e Peterson, o único suspeito. Descobertas e testemunhos vão complicando a situação do escritor, que acaba condenado pelo assassinato de Kathleen, mas ele afirma o tempo inteiro ser inocente. Bem narrada e com personagens densos, a minissérie da Netflix acabou virando uma série de ficção da HBO em 2022, com Toni Collette e Colin Firth como protagonistas.

7. As 24 Personalidades de Billy Milligan

Essa é outra série de crime real da Netflix transformada em uma obra de ficção: o ator Tom Holland estreou este ano na Apple TV a série The Crowded Room, cuja primeira temporada se baseia na vida de Milligan. Em 1977, Billy Milligan foi preso, acusado de estuprar três mulheres no campus da Universidade de Ohio. Ocorre que desde criança Billy mostrava ter outras personalidades; em algumas delas, inclusive, assume outros sotaques: um comunista iugoslavo, um britânico afetado, uma lésbica tímida... Fascinante.

8. Nada é o que Parece: O Caso Cassez-Vallarta

Florence Cassez tinha 29 anos quando chegou ao México como turista, em 2003. Dois anos depois, acabou detida no dia na companhia do ex-namorado Israel Vallarta, suspeito de liderar "Los Zodiacos", um grupo que seria responsável por uma dezena de sequestros e uma morte, e foi condenada a 96 anos de prisão. Mas a história parece muito mal contada. A batida policial é toda filmada pela televisão e se comprova falsa. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, acredita na inocência de Florence e entra numa crise diplomática para conseguir sua extradição. Enquanto isso, a moça passa oito anos na cadeia...

9. Uma Morte em Vermelho

Imperdível para conhecer os bastidores da queda do muro de Berlim e da reunificação da Alemanha, sempre glorificados sem crítica aqui no Brasil. O que não se costuma contar é que a reunificação foi feita à custa de um processo de privatização criminoso: todas as empresas da Alemanha Oriental foram vendidas a preço de banana, e milhões de pessoas foram jogadas no olho da rua. O responsável por esse processo, Detlev Rohwedder, acaba assassinado em casa, em 1991, em um crime aparentemente perfeito. Quem o matou? Antigos membros da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental? Pessoas descontentes com o desemprego? Integrantes da RAF (Facção do Exército Vermelho), organização de extrema esquerda? Motivação não falta e candidatos idem.

10. CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn

A carreira do empresário franco-brasileiro de origem libanesa Carlos Ghosn era fulgurante: considerado um dos mais importantes executivos do mundo, Ghosn conseguiu recuperar a Renault, às vésperas da falência, e firmar um bilionário acordo com a japonesa Nissan. Até que, em 2018, é preso no Japão, acusado de irregularidades que nega ter cometido. De fato, o documentário não consegue mostrar qual foi exatamente o crime de Ghosn, que foge espetacularmente do Japão para o Líbano. Em maio de 2023, a Human Rights Watch publicou um relatório em que acusa a Justiça japonesa de violar sistematicamente o direito dos acusados, mantidos em prisão preventiva durante meses para forçá-los a confessar – alguém se lembrou da Lava Jato? Em 2022, o Ministério da Justiça japonês nomeou um comitê de especialistas para refletir sobre uma possível reforma do código de processo penal. O Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária também considerou o processo contra Ghosn injusto.