Após gastar aproximadamente US$ 260 milhões (o equivalente a quase R$ 1,5 bi no câmbio atual) para eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos, o bilionário Elon Musk tem como alvo um novo processo eleitoral no qual deseja exercer a influência de seu dinheiro.
Nesta semana, anúncios de TV pagos por um dos comitês de Ação Política financiados por Musk, o Building America's Future, começaram a ser exibidos em Wisconsin, estado da região Meio-Oeste dos EUA. Calcula-se que o dono da Tesla e do X tenha gasto US$ 1,5 milhão em comerciais apoiando o juiz do Condado de Waukesha, Brad Schimel, na disputa por uma vaga na Suprema Corte estadual, em eleição marcada para abril.
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O tribunal, que representa a instância máxima do Judiciário no estado, tem sete juízes e cada um é eleito diretamente pela população. Cada magistrado tem mandato de 10 anos, sem limite de reeleição, e as candidaturas não têm vínculos oficiais com partidos políticos, embora contem, em geral, com o alinhamento em relação a republicanos ou democratas.
Atualmente, a Corte tem uma maioria progressista de quatro a três. Mas a juíza progressista Ann Walsh Bradley está se afastando e Schimel, apoiado por Musk, é um aliado de direita do ex-governador Scott Walker, de quem recebeu a nomeação como juiz do Condado de Waukesha após ser derrotado em sua tentativa de reeleição em 2018 para o cargo de procurador-geral.
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Do outro lado está a juíza do Tribunal do Circuito do Condado de Dane, Susan Crawford, apoiada pela titular Bradley e por dezenas de juristas, além de entidades de defesa dos direitos civis.
Jogo bruto
Como destaca matéria do The Nation, Wisconsin é um estado de campo de batalha intensamente contestado, onde cinco das últimas sete disputas presidenciais foram decididas por uma diferença de menos de 30 mil votos. Assim, as decisões do tribunal têm implicações nacionais significativas.
Mesmo fora do governo estadual, Scott Walker tem trabalhado nacionalizar a disputa pela Suprema Corte, que deve julgar em breve temas como o direito ao aborto e direitos trabalhistas. "A eleição de 1º de abril é importante para nós em Wisconsin, mas também é de vital importância para o resto da nação", disse ele.
O apelo chegou a Musk que, em janeiro, depois de os candidatos ao tribunal entrarem com suas petições para participar da eleição, tuitou em sua plataforma X: "É muito importante votar no Partido Republicano para a Suprema Corte de Wisconsin para evitar fraude eleitoral!". Como dito acima, não há oficialmente partidos concorrendo, o que torna a mensagem do bilionário inócua.
A campanha de Schimel tem adotado uma linha bastante semelhante à de Trump, seguindo o mesmo ideário. Em sua página oficial, é possível ver ataques a Crawford como um texto no qual afirma que "uma longa lista de organizações de interesses especiais de extrema esquerda — grupos que apoiam homens em esportes femininos, provedores de bloqueadores da puberdade infantil e oponentes fanáticos do Ato 10 [lei anti trabalhista e antissindical aprovada no governo Walker] — divulgaram seus apoios à candidata escolhida a dedo pelos democratas, Susan Crawford".
Possíveis retrocessos
O impacto do dinheiro de Musk preocupa os políticos locais. “Wisconsin é mais uma vez a linha de frente contra uma tomada bilionária de nossa democracia”, disse ao The Nation o senador estadual Chris Larson, um democrata de Milwaukee.
"Em DC, Elon Musk assumiu o controle das informações financeiras privadas dos americanos e cortou o financiamento para crianças famintas. Agora, Musk está tentando comprar Brad Schimel e assumir o controle da Suprema Corte de Wisconsin para que Schimel possa carimbar uma agenda extrema de proibição do aborto e conivência com corporações", disse ao site o porta-voz da campanha de Crawford, Derrick Honeyman. "Não é surpreendente que Schimel esteja rastejando pelo apoio de interesses especiais obscuros — ele já foi pego implorando de joelhos para que doadores de extrema direita lhe dessem dinheiro, e agora Elon parece estar respondendo aos seus apelos."
No histórico de Schimle como juiz está a recusa em responsabilizar grandes empresas farmacêuticas pela epidemia de opioides que devastou comunidades do estado, aponta Honeyman, acrescentando que o magistrado recebeu mais de US$ 17 mil da indústria farmacêutica.