Um estudo conduzido por uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, analisou o material postado no X, ex-Twitter, do início de 2022 a junho de 2023, período que inclui o mandato completo de Elon Musk como CEO da plataforma. E a constatação é que o discurso de ódio aumentou após a aquisição por parte do bilionário, em 27 de outubro de 2022.
Meses antes da negociação, já havia um crescimento desse tipo de conteúdo, mas a taxa semanal passou a ser 50% maior do que nos meses anteriores à sua compra. O aumento, segundo o levantamento, é visto em várias dimensões do ódio, incluindo racismo, homofobia e transfobia. Além disso, há uma duplicação de "curtidas" de postagens de ódio, indicando maior engajamento em relação a postagens com esse viés.
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Publicado na revista Plos One, o estudo aponta que o número médio de postagens contendo discurso de ódio aumentou de 2.179 por semana antes da compra para 3.246 depois da transação.
A pesquisa também indica que, no mesmo período, a atividade no X aumentou 8%, mas os pesquisadores descartam que o aumento na circulação desses conteúdos tenha sido responsabilidade de novos usuários.
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Menos moderação de conteúdo
Musk comprou oficialmente o então Twitter por US$ 44 bilhões e à época a conclusão do negócio foi acompanhada de promessas de reduzir o discurso de ódio na plataforma e lidar com bots e outras contas inautênticas.
Contudo, o bilionário fez várias mudanças na plataforma para reduzir a moderação de conteúdo. Em novembro de 2022, ele demitiu grande parte da força de trabalho em tempo integral da empresa e determinou a saída dos moderadores terceirizados que rastreavam abusos na rede social.
Como destaca o professor da Universidade de Camberra, na Austrália, Michael Jensen, em artigo publicado no The Conversation, no mês seguinte, Musk também dissolveu o Conselho de Confiança e Segurança da plataforma — um grupo consultivo voluntário de líderes independentes de direitos humanos e acadêmicos formado em 2016 para combater o discurso de ódio e outros problemas na plataforma.
"Pesquisas anteriores mostraram que o discurso de ódio aumentou no X imediatamente após Musk assumir. O mesmo aconteceu com a prevalência da maioria dos tipos de bots. Este novo estudo é o primeiro a mostrar que isso não foi uma anomalia", pontua Jensen.
Transfobia
As calúnias transfóbicas tiveram o maior aumento, segundo a pesquisa, passando de uma média de aproximadamente 115 postagens semanais antes da aquisição de Musk para uma média de 418 depois.
Já o nível de engajamento do usuário com postagens contendo discurso de ódio também aumentou. A taxa semanal em que o conteúdo de discurso de ódio foi curtido pelos usuários saltou 70%.
Não houve também redução dos chamados bots, os robôs por trás de perfis falsos. "Não encontramos nenhuma mudança significativa na atividade coordenada da conta ou no engajamento. Dito isso, vemos um aumento no número de contas ativas do tipo bot e uma tendência de alta substancial em postagens de criptomoeda, que geralmente contêm spam", dizem os pesquisadores.
"Todos esses resultados sugerem nenhuma redução e um aumento potencial na atividade entre contas inautênticas. Isso pode ter consequências graves não apenas para o prazer do usuário na plataforma, mas também para potenciais vítimas de golpes e a estabilidade das democracias diante da desinformação", concluem.