Sociedade

Onde Está Meu Coração: série da Globo acerta ao retratar uso do crack na elite branca de SP

Produção rendeu a atriz Letícia Colin, que protagoniza a história, indicação por sua atuação ao Emmy 2022

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Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).
Onde Está Meu Coração: série da Globo acerta ao retratar uso do crack na elite branca de SP
Onde Está Meu Coração: série da Globo acerta ao retratar uso do crack na elite branca de SP. Divulgação

Geralmente quando surgem reportagens sobre o espalhamento do uso do crack em São Paulo e em outros estados do Brasil, bem como a consolidação dos fluxos de uso (anteriormente chamado de “crackolândia”), geralmente são corpos negros e pobres que são utilizados para exemplificar o tipo ideal das pessoas usuárias da substância em questão. 

Diante de tal imagem social construída em torno do crack, a série da Globoplay “Onde Está Meu Coração”, que estrou nesta terça-feira (31) na Globo, acerta ao retratar o uso do crack na elite branca de São Paulo. 

Na trama acompanhamos a vida da médica da médica Amanda (Letícia Colin), que é considerada uma brilhante profissional em sua área. Aqui temos um outro ponto alto da trama: o roteiro de George Moura e Sergio Goldenberg acerta ao mostrar uma pessoa bem-sucedida e admirada, ao contrário da clássica visão de que pessoas usuárias de substâncias ilegais são "fracassadas".

Além de romper com o estigma social em torno do crack, a série “Onde Está Meu Coração” também é corajosa ao colocar em perspectiva crítica os clássicos tratamentos para dependentes químicos, ou seja, aqueles que atuam com a abstinência total. O roteiro da produção é corajoso ao colocar a seguinte questão: a abstinência total não é um tratamento universal, existem outros métodos – como a redução de danos – que podem ser úteis. 

Ao optar por exibir na televisão aberta, a Globo acerta e faz uma baita contribuição para um debate que ainda é permeado por valores e moralismos arcaicos. A história de Amanda – médica, branca e rica – é mais comum do que podemos imaginar, no entanto, o racismo e o preconceito de classe fizeram do crack a “droga dos pobres e negros”, o que não é verdade. 

Pode-se dizer sem medo de errar de que “Onde Está Meu Coração”, ao lado do filme “Querido Menino” (EUA/2018), é uma das melhores produções dos últimos anos sobre um tema que ainda é tocado a partir de muitos “achismos” e valores religiosos, ambos nada científicos. 

Cabe um destaque especial para a atuação excepcional de Letícia Colin – que lhe rendeu indicação ao prêmio de Melhor Atriz no Emmy 2022 – e da diretora Luísa Lima. 

Além da atuação avassaladora de Letícia Colin, a trama também conta com a participação de Mariana Lima (a mãe), Fábio Assunção (o pai), Manu Morelli (a irmã) e Daniel de Oliveira (o companheiro).  

“Onde Está Meu Coração” é exibida de terça à sexta após o BBB 23. 
 


 

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