JUSTIÇA

Série da Netflix sobre incêndio na boate Kiss revela humilhações aos familiares das vítimas

Com 10 anos da tragédia e sem nenhum dos responsáveis punidos, tragédia de Santa Maria também é tema de série documental da Globoplay

Série da Netflix sobre incêndio na boate Kiss revela humilhações aos familiares das vítimas.Créditos: Divulgação
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Estreou nesta quarta-feira (25) a nova produção brasileira da Netflix, a minissérie "Todo dia a mesma noite", que dramatiza o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), que matou 242 jovens e o calvário de pais e mães em busca de justiça e memória para os seus filhos. A tragédia completa 10 anos nesta sexta-feira (27). 

Também entrou em cartaz na Globoplay a série documental que visa escarafunchar a tragédia da boate Kiss. 

A produção é assinada por Júlia Rezende e trata-se de uma adaptação do livro reportagem de Daniela Arbex, que mergulha na história de algumas das personagens - entre vítimas fatais e sobreviventes - daquela que é apontada como uma das maiores tragédias da história recente do Brasil. 

Além da produção dramática da Netflix, também estreou nesta semana uma minissérie documental sobre a tragédia: “Boate Kiss: a tragédia de Santa Maria”, dirigida por Marcelo Canellas, está em cartaz na Globoplay. 

Ambas as produções – Netflix e Globoplay - se focam em um ponto comum: a humilhação que o Estado impõe sobre as famílias a partir dos poderes judiciais. 


Humilhação estatal 


Como tornar atraente uma história que ainda é recente na memória dos brasileiros e que possui milhares de registros amadores e jornalísticos? Ou seja, em certa medida, todo mundo sabe a história da tragédia na boate Kiss: 242 jovens morreram queimados, sufocados e envenenados por produtos tóxicos eliminados pela esponja. 

Eis o triunfo da produção da Netflix: focar no luto interminável e na luta das famílias por justiça e memória, pois, essa é a parte da história que ninguém tinha conhecimento, pelo menos até este momento, ou seja, de que o Estado fez das mães e dos pais das vítimas seus inimigos e passou a “proteger” com burocracias intermináveis os responsáveis pela tragédia de Santa Maria. 

Imagine que o seu filho foi morto por equívocos cometidos por empresários e agentes do poder público, daí o processo não caminha, diante disso, algumas mães e pais decidem ir à imprensa para pressionar e apontar falhas no trabalho do Estado e este, ao invés de apontar suas armas para os responsáveis, resolve processar, por meio do Ministério Público, e silenciar as mães e os pais. 

 


Luto interminável 

 

Cada episódio nos mostra de maneira dolorosa como as burocracias e processos intermináveis impedem que as famílias finalizem os seus respectivos lutos e impõe um cansaço que faz com alguns simplesmente não consigam mais lutar para que a Justiça seja feita. 

“Todo dia a mesma noite” é, além de um registro histórico sobre o incêndio da boate Kiss, uma obra que cumpre com outras duas funções: fazer com que haja Justiça e memória. 

O cansaço é uma forma de fazer com que as famílias desistam, adoeçam – derrames, enfartos – e pereçam durante o caminho. E é isso que ocorre neste momento com os familiares das vítimas do incêndio da boate Kiss. 

Em dezembro de 2021 os quatro réus foram condenados pelo júri, no entanto, por causa de questões técnicas e processuais, a condenação foi anulada pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Não há previsão para um novo júri.  O cansaço e a humilhação são duas maneiras de o Estado vencer essas famílias.