Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, "quem estava esperando uma eleição muito vitoriosa para o PT está completamente descolado da realidade". Por conta do cenário brasileiro, e também do internacional, sua análise aponta que o antiesquerdismo se tornou um elemento fundamental na disputa política atual.
"Uma realidade, no Brasil e no mundo, é o florescimento de valores sociais que se reivindicam como antiesquerdistas, ou seja, o antiesquerdismo é um componente central da ideologia dessa extrema direita global que temos hoje em dia como grande novidade, como grande centro de gravitação das expectativas populacionais", aponta, em entrevista ao Outras Palavras TV.
Te podría interesar
Assim, mesmo o triunfo nas eleições de 2022 deve ser contextualizado. "Não há nenhum indício de que a eleição do Lula tenha mudado isso. Ela apenas configurou uma frente amplíssima capaz de reunir aqueles que, por motivos diferentes, discordavam de um entendimento da figura de Jair Bolsonaro. E não significa que não haja na sociedade a penetração desses valores conservadores, muitas vezes reacionários", pontua.
"Essa cantilena de que o PT teve uma grande derrota nessa eleição... Só se derrota aquilo que se esperava ganhar. Na verdade, a aposta estratégica do Partido dos Trabalhadores não foi ganhar, foi tentar evitar a escalada, o aumento, a capilaridade da extrema direita no país", diz Mayra.
Nesse aspecto, ela acredita que o objetivo teria sido alcançado. "Acho que essa estratégia foi vitoriosa nessa eleição. Não só porque o PL não conseguiu fazer suas mil prefeituras, o partido teve derrotas muito contundentes nesse segundo turno e a figura do Jair Bolsonaro não só saiu fragilizada como cabo eleitoral, como a extrema direita saiu dividida dessa eleição", explica. "Então, acho que esse discurso de derrota do PT não me parece adequado."
Tarcísio e a extrema direita
Mayra também comenta a atitude do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que relacionou o nome de Guilherme Boulos (PSOL) a um suposto "salve" do PCC, sem qualquer prova, defendendo o voto em sua candidatura. "Foi uma surpresa ter um governador numa situação confortável de poder, fazendo uma acusação espúria, sem nenhum fato, contra um outro candidato, se mostrando pouco respeitoso das regras do jogo, que é a principal característica da extrema-direita", avalia a cientista política.
Leia também:
Lula, a esquerda e o "enigma da classe C"
"A extrema-direita não respeita a Justiça Eleitoral, não respeita as regras eleitorais, não respeita o jogo da eleição, a alternância de poder. É importante deixar isso claro para que a gente entenda que não existe tanta diferença assim entre Pablo Marçal e Tarcísio", afirma. "São atores que não têm compromisso com o jogo institucional."
Para a professora, muitas vezes as pessoas "se esquecem" do que o governador paulista representa de fato. "Ele [Tarcísio de Freitas] lembrou a gente de que é igualmente perigoso para a nossa democracia."
Confira abaixo a íntegra da entrevista.