DIÁRIO DA CHINA

O plástico vai virar bambu

Potência asiática lançou iniciativa que apoia uso de bambu e rattan que pode virar o jogo em setores como a indústria da moda

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O plástico é material onipresente nas nossas vidas: embalagens, construção, roupas, utensílios e mais um universo de objetos. De um lado, o plástico ajuda a fornecer muitos bens e serviços que fazem o mundo moderno funcionar sem problemas. Do outro, se transformou em uma dor de cabeça.

Nos últimos 50 anos, bilhões de toneladas de plásticos acabaram em aterros sanitários ou descartados em ambientes naturais, destruindo os ecossistemas terrestres e infiltrando produtos químicos nos solos onde cultivamos nossas plantações, representando uma séria ameaça ambiental, social e econômica. 

Os resíduos de plástico também sufocaram a vida oceânica, levando a declínios acentuados na biodiversidade marinha e danificando gravemente os ecossistemas aquáticos. Produzidos em grande parte por combustíveis fósseis, os plásticos também têm sido catastróficos para acelerar as mudanças climáticas.

À medida que esses plásticos se decompõem, eles formam microplásticos que contaminam os alimentos que comemos todos os dias. Embora a ciência por trás dos microplásticos ainda não seja bem compreendida, muitos pesquisadores acreditam que os microplásticos podem exercer efeitos negativos em nossos corpos, levando à irritação e à interrupção do funcionamento normal dos sistemas. 

Para complicar a situação, os plásticos são frequentemente usados ao lado de produtos químicos nocivos, como plastificantes, estabilizadores e pigmentos, que são perigosos quando ingeridos.

Está claro que uma ação global urgente é necessária, especialmente dada a natureza transfronteiriça do problema nas cadeias alimentares, saúde humana e proteção da biodiversidade. 

No início de novembro deste ano, um farol foi aceso na capital da República Popular da China, Pequim. Durante a realização do Segundo Congresso Global de Bambu e Rattan (Barc 2022), quando foi celebrado o 25º aniversário da Organização Internacional de Bambu e Rattan (Inbar, na sigla em inglês), o governo chinês lançou a Iniciativa do Bambu como Substituto para o Plástico.

A proposta da China pretende reduzir a poluição do plástico em todos os países, abordar a mudança climática e acelerar a realização da Agenda 2030 das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável.

Em seguida, para combater a crise crescente do uso de plástico, foi criado o Comitê Intergovernamental de Negociação (INC, na sigla em inglês) para desenvolver um instrumento internacional juridicamente vinculativo sobre o plástico, inclusive no ambiente marinho.

A primeira sessão do INC foi realizada em 28 de novembro de 2022. A Inbar participou da reunião e apresentou uma declaração por escrito ao lado de outras organizações internacionais presentes.

A declaração defende a capacidade do bambu de atuar como um material alternativo verde para reduzir a poluição plástica e fortalecer o uso desse material para resolver os problemas gêmeos da poluição plástica e das mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que contribui para a Iniciativa de Desenvolvimento Global (GDI, na sigla em inglês).

A GDI foi apresentada pela China durante a reunião da 77ª Assembleia Geral das Nações Unidas e a 51ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada em setembro deste ano. A proposta chinesa constitui um caminho viável para a implementação acelerada da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável ao criar uma plataforma de cooperação e reunir recursos de desenvolvimento.

A Inbar é uma organização intergovernamental com 49 Estados Membros, entre eles Brasil e China, localizados em grande parte no Sul Global. A entidade atua para transformar essa iniciativa em um instrumento legalmente vinculativo internacional sobre plásticos e sua subsequente implementação. 

O bambu, como um material de biomassa verde, de baixo carbono, de rápido crescimento, renovável e degradável, pode desempenhar um papel único não apenas em enfrentar os desafios globais, como a poluição plástica, mas também nas mudanças climáticas, redução da pobreza e restauração ecológica. 

A Inbar já começou a trabalhar com as partes interessadas da China e de outros Estados Membros para implementar um plano de ação para apoiar a consecução dos objetivos estabelecidos na Iniciativa Bambu como Substituto do Plástico.

No caso da indústria da moda, por exemplo, essa troca de plástico por bambu em escala pode virar o jogo do passivo ambiental dessa indústria. Sob a liderança chinesa, o principal produtor de roupas do mundo, é uma excelente notícia vislumbrar que é possível dar fim ao uso desenfreado do poliéster. Essa fibra sintética é a mais usada pela indústria têxtil e é apontada como uma das principais vilãs da poluição plástica, pois a cada lavagem das peças libera muito microplástico. Que os planos se concretizem. O planeta agradece.