A CBF continua calada sobre dois casos de estupro que envolveram jogadores de grande currículo com a seleção brasileira: Robinho, que vai cumprir no Brasil pena pelo estupro coletivo de que participou na Itália em 2013, e Daniel Alves, que foi liberado da cadeia enquanto não corre o recurso de sua pena de quatro anos e meio, também por estupro cometido na Espanha em 2022. Nota: aulas de estilo dizem que o jornalista não deve repetir a mesma palavra insistentemente, mas eu faço por gosto: estupro, estuprador, crime, criminoso, condenação, cadeia.
Um grande pacto corporativo paira sobre os casos. Homens protegendo homens. Ou, ao menos, ficando fora do assunto, como fez Tite ao ser perguntado sobre Daniel Alves. Não há orientação aos mais jovens. Yan Couto, por exemplo, com Diniz, não hesitou em citar Daniel Alves como ídolo e exemplo. Só foi explicar que estava falando do jogador e não do cidadão dias depois. Como se pudesse haver separação entre o ser humano (?) que comete uma bestialidade contra mulheres e o craque (?) que trata bem a bola.
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Experimente perguntar a Dorival Jr sobre o assunto. Duvido que avance além do futebol, com seu subjuntivo perfeito.
Então, esqueceram de combinar com Leila Pereira, presidente do Palmeiras, chefe da delegação brasileira que faz dois amistosos na Europa. "Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação da seleção brasileira, tenho que me posicionar sobre os casos de Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso de Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte."
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Importantíssimo. Perfeito.
Lugar de fala, não?
Por mais que um homem lamente e se indigne com a bestialidade de um estupro, somente uma mulher consegue ter a total dimensão do horror animalesco, da brutalidade invasiva. O nojo que senti ao ouvir os áudios de Robinho devem ser menores do que o nojo sentido por uma mulher, que sabe que está exposta àquilo.
A mulher sabe que pode ser a próxima vítima, principalmente no Brasil em que a misoginia campeia e que o número de feminicídios é tão grande.
A CBF deveria juntar jogadores e jogadoras da seleção para participarem de uma palestra com advogados ou psicólogos ou com Maria da Penha, aquela que apanhou tanto que virou cadeirante e que deu o nome à lei que atende a esses casos.
Quem, a CBF? Aquela que teve um presidente deposto porque perguntou à secretária se ela se masturbava?
Difícil, não.
Talvez se a presidente fosse uma mulher.