Muitos analistas políticos trataram os apoios dos govenadores reeleitos de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Rio de Janeiro, Cláudio Casto, como importantes conquistas de Bolsonaro. Como também o do derrotado Rodrigo Garcia, em São Paulo.
Não vou perder muito tempo com Garcia. Ele foi amplamente rejeitado pelos seus conterrâneos. Foi trocado por um carioca que nem sabe onde fica o colégio eleitoral que vota. Pode contar um pouco para uma vitória de Tarcísio, mas não contará nada para Bolsonaro. Em São Paulo, Bolsonaro teve 1.749,957 votos a mais que Lula. Pode ampliar isso. Mas Tebet com seus 1.625,596 de votos e Ciro Gomes com 898,540 contam muito mais do que Garcia. Tanto que no Datafolha a diferença entre Bolsonaro e Lula caiu para 2%, 46% a 44%.
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Já em relação a Zema e Castro um apoio firme poderia sim mudar a correlação de forças nesses estados. Eles já têm garantida a chave do cofre para o quadriênio 2023/2026 e têm como pressionar prefeitos, vereadores e deputados a fazerem campanha para o seu preferido.
E ambos foram muito rápidos para embarcar na canoa de Bolsonaro, o que pode levar a crer que serão fiéis escudeiros do mesmo neste 2º turno.
Mas acontece que isso não faz sentido e em política é raríssimo que algo que não faça sentido venha a acontecer.
Zema dizer que apoia Bolsonaro é bom pra Zema. Já Zema apoiar Bolsonaro de fato é ruim pra Zema. Explico-me.
O governador de Minas pode ser tudo, menos um idiota. E mesmo sendo um neófito na política em 2018, com seus quatro anos de mandato já deve ter apreendido que não se faz acordo com traíra.
Bolsonaro reeleito vai se impor como um ditador. Controlará o STF, o Congresso, a PF, Receita Federal e tudo mais que tiver poder. E vai fazer com que os governadores se tornem meros capachos. Fez xixi fora do penico ele vai transformar o gajo em inimigo e buscar sua destruição. Isso vale pra Zema, mas também para Castro.
Mas no caso de Zema, há ainda algo mais importante. Se vier a ser reeleito, Bolsonaro não será presidente apenas até 2026, ele buscará novos mandatos a partir de uma mudança na Constituição que será facilmente aprovada por um Congresso que ele compra com orçamento secreto.
E aí Zema teria de voltar para casa ou no máximo buscar um mandato de senador ou mesmo de governador se as reeleições forem indeterminadas para todos os cargos.
Mas Zema quer ser presidente. E para isso precisa se tornar a principal alternativa à direita do país. E como isso aconteceria? Só na hipótese de Bolsonaro perder. Sim, isso mesmo. Bolsonaro derrotado no dia seguinte já haveria um grupo de analistas e pessoas do mercado sugerindo que o governador de Minas poderia ser o nome do centro (pausa para rir) para o pós-Lula. E Lula só teria um mandato, porque não pensa em se reeleger. Muito provavelmente inclusive deve colocar em debate o fim da reeleição no país.
Zema talvez tivesse Bolsonaro ou um dos seus como adversário pela extrema-direita em 2026, mas herdaria uma parte do espólio do mesmo. Já que o futuro ex-presidente não teria mais o controle da máquina do governo federal.
Faz algum sentido Zema apoiar Bolsonaro? Não. Por isso mesmo seu apoio deve ser mais formal do que implicar numa virada eleitoral em Minas. A diferença de votos pró-Lula de 559,106 votos deve continuar no mesmo padrão. Ou no máximo diminuir um pouco.
A lógica que vale para Zema, vale para Castro. Com outro agravante. Zema ainda teria força para indicar seu sucessor. Já no Rio, Bolsonaro é muito mais forte e isso já não aconteceria.
Exatamente por este motivo não é de surpreender que o o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), um dos principais líderes da Baixada Fluminense, tenha sinalizado apoio a Lula. E que outros líderes da região estejam pensando em fazer caminho parecido.
No Rio de Janeiro, Bolsonaro, diferentemente de Minas, venceu as eleições. Ele teve 984,103 votos a mais que Lula. Quase 1 milhão. Tebet teve 365,969 e Ciro Gomes, 301,489. Ou seja, Lula dificilmente vira no Rio, mas tem que segurar a diferença no limite do 1 milhão de votos. É possível.
Principalmente porque além de Waguinho de Belford Roxo e outros prefeitos que devem migrar da base de Castro para o apoio a Lula, ele terá Eduardo Paes coordenando sua campanha no estado e também Rodrigo Neves, que não pode fazer campanha para Lula no 1º turno porque seu PDT tinha candidato a presidente.
Paes sabe que se Bolsonaro vier a vencer sua vida será muito difícil em 2024. Ele terá sua reeleição em risco, podendo perder para um bolsonarista raiz. Se Lula ganhar, Paes não só se reelegerá com facilidade como pavimenta sua candidatura ao governo em 26.
Ou seja, o que não tem lógica na política dificilmente acontece. Rio e Minas junto com São Paulo são estados decisivos para Bolsonaro se reeleger. E ele conquistou apoios importantes para isso. Mas será que conquistou mesmo esses apoios? Eu tendo a acreditar que não.