ELEIÇÕES 2024

Pablo Marçal e esqueçam as qualis, porque o que vale é o pós-debate nas redes

As campanhas eleitorais montam superestruturas em dias de debate para fazer pesquisas qualitativas que avaliam o desempenho dos seus candidatos minuto a minuto, bloco a bloco.

Pablo Marçal e esqueçam as qualis, porque o que vale é o pós-debate nas redes.Créditos: Reprodução de Vídeo/Band
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As campanhas eleitorais montam superestruturas em dias de debate para fazer pesquisas qualitativas que avaliam o desempenho dos seus candidatos minuto a minuto, bloco a bloco.

Para quem não sabe o que são as tais qualis, vou tentar explicar rapidinho. As campanhas contratam institutos de pesquisa que selecionam eleitores e montam salas com grupos de aproximadamente 8 a 10 pessoas para acompanharem o debate ao vivo. Em alguns casos, selecionam esses eleitores por gênero, renda e também preferência de candidatura e os separam. Com isso, tentam observar como cada grupo reage às falas e no final produzem relatórios sobre quem foi melhor e em que momento.

É algo muito científico e, em outros tempos, funcionava muito bem, inclusive para que o candidato tivesse orientações nos intervalos. O marqueteiro explorava frases que tinham dado bons resultados e indicava fragilidades do adversário. Acontece que agora o disco virou.

Importa muito mais o que você faz com o conteúdo do debate nas redes. Cortes com frases fortes e que, na hora, foram mal avaliadas pelo público que estava assistindo, podem se tornar memes e contribuírem para que quem teve desempenho pífio no ao vivo se torne o grande vencedor do dia seguinte.

Foi o que ocorreu no Debate da Band de São Paulo. Pablo Marçal, que teve um desempenho de psicopata no ao vivo e que foi muito mal avaliado pelas qualis, se tornou o corajoso do dia seguinte. O sujeito que falou tudo aquilo que uma parte dos eleitores gostaria de dizer aos adversários.

Na sexta à tarde, Marçal já tinha soltado nas redes mais de 30 cortes do debate. Enquanto seus adversários tinham postado três ou quatro cortes delicados e de momentos sóbrios, ele apostou na má educação e na trollagem.

O DataFórum foi o primeiro instituto a perceber que ele tinha se destacado e poderia ter saído como vencedor. Um post publicado ainda na segunda pela manhã mostrava que, no Twitter, quem tinha conseguido colocar a rede para funcionar tinham sido ele e Boulos. Os outros candidatos sequer apareciam no grafo (uma imagem que mostra as bolhas que se criaram) da disputa da noite anterior.

É hora de os marqueteiros reverem os seus conceitos. A internet é disruptiva e modificou completamente o locus onde se dá a formação da opinião pública.

Marçal não é o favorito a ganhar as eleições, mas parece ter conseguido capturar o sentimento do bolsonarismo em São Paulo e pode tirar Ricardo Nunes do 2º turno.

Não há ainda um cansaço com a psicopatia na política. Ela tem sua força e seu encanto. E até por isso Bolsonaro não é um cadáver político depois de ter perdido a eleição para Lula.

Se você é marqueteiro e tiver dinheiro só para contratar equipes de redes competentes ou qualis, aposte tudo na primeira opção. Inclusive porque uma boa equipe de redes consegue fazer relatórios completos sobre a reação dos eleitores em tempo real.