Memória

David Capistrano recebe homenagem póstuma no Sindicato dos Bancários de Santos

“25 anos sem David Capistrano”: Organização do evento destaca o compromisso do médico sanitarista e ex-prefeito da cidade do litoral paulista com o SUS

Escrito em SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
David Capistrano recebe homenagem póstuma no Sindicato dos Bancários de Santos
David Capistrano Filho. Reprodução de Vídeo/YouTube

O médico sanitarista David Capistrano Filho, prefeito de Santos, no litoral paulista, de 1993 a 1996, receberá homenagem póstuma no Sindicato dos Bancários de Santos. O evento será nesta quinta-feira (10), às 19 horas, na sede da entidade, à Avenida Washington Luís, 140.

O objetivo da ação é não apenas relembrar a relevância de Capistrano na saúde pública brasileira, mas também debater a necessidade de lutar pelo fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que tinha no médico um grande defensor.

“Resgatar as abrangentes, criativas e ousadas ações de Capistrano no campo da saúde, especialmente em Santos, que serviram de inspiração e modelo no processo de construção do SUS no Brasil, tem também como foco a premência de fortalecer e consolidar nosso sistema universal de saúde. O SUS vem sendo ameaçado pelas forças de mercado e precisamos lutar contra isso”, destacaram os integrantes da comissão organizadora da homenagem, formada pelos profissionais de saúde Aparecida Linhares Pimenta, Elci Pimenta Freire, Lídia Tobias da Silveira, Roberto Tykanori e Ubiratan de Paula Santos.

Denominado “25 anos sem David Capistrano”, o encontro é promovido pelo Centro de Estudos Econômicos, Políticos e Sociais (Cepes), Coletivo de Saúde David Capistrano, Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Associação Cultural José Martí e Instituto Telma de Souza. 

Militância política surgiu cedo

Nascido no Recife, capital de Pernambuco, no dia 7 de julho de 1948, David Capistrano da Costa Filho morreu em 10 de novembro de 2000, na capital paulista.

Ele sofreu com problemas hepáticos, consequência dos tratamentos de quimioterapia contra leucemia, e não suportou um transplante de fígado, falecendo aos 52 anos.

Ainda muito jovem ingressou na política, influenciado pelo pai, David Capistrano da Costa, ex-deputado estadual em Pernambuco e importante dirigente comunista.

Em 1964, com o golpe militar, o pai passou a ser procurado por agentes da repressão e viveu na clandestinidade. Em 1974, ele foi dado como desaparecido político.

Davizinho, como era chamado por amigos e familiares, atuou no movimento estudantil no Recife e, principalmente, no Rio de Janeiro.

Mudou-se para São Paulo, se especializando em pediatria e em saúde pública. Foi um dos principais idealizadores do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e de sua Revista “Saúde em Debate”. Em 1983, assumiu a secretaria de Saúde de Bauru, no interior paulista, e, em 1989, foi secretário de Saúde em Santos.

Sua atuação na área da saúde o credenciou a ser o candidato à sucessão de Telma de Souza (PT) à prefeitura santista. Foi eleito e, ao longo das duas administrações petistas, a saúde em Santos se tornou referência nacional.

Das muitas iniciativas que serviram de modelo para diversos municípios, são destaques a intervenção na Casa de Saúde Anchieta e a criação dos Núcleos de Assistência Psicossocial (Naps) como estratégia de humanização da assistência psiquiátrica; combate à Aids; implantação do atendimento domiciliar e do programa de redução de danos voltado a dependentes de drogas e álcool, entre muitas outras.

Capistrano foi especialista em pediatria e saúde pública - Foto: Reprodução

Ditadura assassinou seu pai

Capistrano chegou a se surpreender ao tomar conhecimento de uma entrevista publicada na revista Veja, em 18 de novembro de 1992, na qual um ex-agente da repressão afirmou que o pai havia sido assassinado, esquartejado na chamada Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), e depois seus restos mortais jogados em um rio.  

Mais tarde, o sanitarista foi coordenador do programa Qualis, que deu início à Estratégia de Saúde da Família. Também foi o responsável pela implantação da Casa de Parto, em Sapopemba, São Paulo. Nessa ocasião, ao conhecer a unidade, o então ministro da Saúde, José Serra, o convidou para integrar a equipe do Ministério, em Brasília.

Apesar das inabaláveis convicções políticas, David Capistrano se relacionava amistosamente com pessoas de diferentes espectros políticos. Além de Serra, outro médico com quem nutria amizade era Adib Jatene, que foi ministro da Saúde nos governos de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, além de secretário estadual de Saúde de São Paulo na gestão de Paulo Maluf.

Após a morte de Capistrano, Jatene o classificou como alguém que “agia com a pressa dos que entendem já ultrapassados em muito os prazos para oferecer à população carente e desassistida algo que ela tem direito. Combativo, veemente e intelectualmente honesto. Lutava pelo que acreditava”.

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