Expectativa

“Ainda Estou Aqui”: Jovem sai de comunidade da Baixada Santista e chega ao Oscar

João Vitor Campilhas Andrade, de 26 anos, nasceu em São Vicente e trabalhou como 2º assistente de maquinária nas filmagens do longa de Walter Salles

Escrito en SP el
Jornalista e redator da Revista Fórum.
“Ainda Estou Aqui”: Jovem sai de comunidade da Baixada Santista e chega ao Oscar
João Vitor em ação durante as filmagens. Reprodução/Instagram

A Baixada Santista está representada no Oscar. Nascido na comunidade México 70, em São Vicente, o jovem João Vitor Campilhas Andrade, de 26 anos, atuou no filme “Ainda Estou Aqui”, que concorre a três estatuetas, neste domingo (2).

João Vitor participou da produção brasileira superpremiada, mas por trás das câmeras. Ele trabalhou como segundo assistente de maquinária nas filmagens do longa dirigido por Walter Salles.

O jovem foi indicado para a vaga na segunda etapa de gravações do filme. No set, ficou com a responsabilidade de manusear equipamentos e montar estruturas de filmagem.

“Eu era realmente uma criança ali. Tinha dois, três anos de experiência, enquanto o mais novo da equipe tinha pelo menos dez. Trabalhar ao lado de profissionais tão experientes foi muito representativo para mim”, relatou João Vitor, em entrevista a Bruna Sales, no Metrópoles.

Uma das experiências mais marcantes para ele foi o contato com Walter Salles. O diretor, segundo João, fazia questão de saber o nome de cada componente da equipe.

No último de participação de João Vitor nas gravações, Salles fez um discurso de agradecimento pelo trabalho de todos. “Foi nesse momento que me senti pertencente. Quando me perguntam se eu trabalhei no filme, eu falo: é, eu tô concorrendo a três Oscars”, destacou.

João Vitor com Walter Salles - Foto: Arquivo Pessoal

O contato com o cinema surgiu cedo, no segundo ano do Ensino Médio, em 2016. Ele passou em um processo seletivo e fez um curso de capacitação profissional em audiovisual do Instituto Querô, instituição sem fins lucrativos que atua na formação de jovens da Baixada Santista há mais de duas décadas.

“O cinema me abraçou muito cedo. Já no primeiro ano eu fui agraciado por um fotógrafo que gostou muito de mim e me chamou para o meu primeiro trabalho”, relembrou.

“O Danilo Pimental [fotógrafo] foi me mostrando o que era fotografia, o que era o cinema, o que era exercer o próprio olhar, contar a sua própria história, da sua perspectiva. E eu fui me apaixonando cada vez mais por essa área, e tendo mais para mim que era isso o que eu queria fazer na minha vida”, disse.

Em seguida, trabalhos surgiram, mas, antes disso, precisou ganhar a vida como camelô, em pastelaria, na coleta de lixo, entre outras atividades.

“Até agora é meio estranho, cair essa ficha. Eu vim do México 70. Pessoas da rua, da família, olhavam e falavam: ‘Cuidado. Esse moleque vai ser tranqueira’. E hoje esse moleque tá com o nome subindo na maior academia de entretenimento mundial”, ressaltou João Vitor.

Planos para o futuro

O jovem saiu da comunidade e, atualmente, mora no centro de São Paulo. Sua função nos sets de filmagem, em resumo, é cuidar da movimentação de câmera, assegurando que a cena saia perfeita.

Hoje, João tem se especializado na função de contrarregra, responsável pela marcação da entrada e da saída dos atores em cena e por providenciar o necessário para os cenários.

O próximo projeto já está em seu radar. Ele participará da filmagens da segunda temporada da série “Cidade de Deus: A Luta Não Para”, da HBO.

“Existe um movimento muito grande dentro do cinema de pessoas periféricas apoiando pessoas periféricas, de furar a bolha. E eu vejo que, de certa forma, é bom ter histórias como a minha para os jovens se inspirarem e verem que não é só dentro dos padrões, das regras que nos impõem, que a gente precisa conviver. Existem outras possibilidades. Não é meritocracia, mas é olhar o copo meio cheio, olhar de uma forma diferente”, completou João Vitor.

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