Do STF, em BRASÍLIA | O ex-ministro da Justiça Anderson Torres ficou tenso e quase se chorou diversas vezes ao longo de seu depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da ação penal na qual é réu por tentativa de golpe de Estado, nesta terça-feira (10).
Seu comportamento estava tranquilo até ser questionado por Moraes sobre o fato de ter viajado para os Estados Unidos no dia 6 de janeiro de 2023, ou seja, dois dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro, quando era o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. “Fui realizar o sonho da minha filha na Disney e vivi um pesadelo”, desabafou Torres sobre o momento.
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Moraes havia falado sobre mensagens apagadas no celular de Torres e mencionou o fato de o ex-ministro ter retornado ao Brasil sem o aparelho.
“Perdi meu telefone, momento mais duro da minha vida, saí daqui como secretário de Segurança e saiu minha prisão no dia 10, isso me deixou completamente transtornado, não tenho vergonha de falar, perdi o equilíbrio completamente…”, desabafou. “A realização do sonho das crianças se tornou um pesadelo para mim”, completou.
Anderson Torres ainda correu atrás do prejuízo e fez um mea culpa sobre as palavras utilizadas durante uma reunião de teor golpista com Jair Bolsonaro e outras autoridades ligadas ao antigo governo, em 5 de julho de 2022.
“Era uma reunião fechada, o que eu quis dizer com isso é que se nós perdêssemos a eleição, tudo que foi construído no governo Bolsonaro tudo seria perdido. Era minha visão”, tentou argumentar o ex-ministro. “Talvez eu não tenha usado as melhores palavras”, emendou.
Ao longo de seu depoimento, Anderson Torres ressaltou diversas vezes sua proximidade com a Polícia Federal (PF) – só para, em seguida, jogar a culpa dos questionamentos das urnas eletrônicas no corpo técnico. “Eu nunca questionei a lisura do processo eleitoral, todas as falhas foram sugestões de melhoria que trouxeram nos documentos, são sugestões técnicas”, afirmou.
Assista aos depoimentos ao vivo na TV Fórum:
Primeiro dia
Na segunda-feira (9), no primeiro dia de interrogatório, foram ouvidos o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem sobre as acusações de participação na trama.
Cid confirmou que esteve presente em reunião na qual foi apresentado ao ex-presidente Jair Bolsonaro documento que previa a decretação de medidas de estado de sítio e prisão de ministros do STF.
O militar também confirmou que recebeu dinheiro do general Braga Netto para que fosse repassado ao major do Exército Rafael de Oliveira, integrante dos kids-pretos, esquadrão de elite da força.
Ramagem negou ter usado o órgão para monitorar ilegalmente a rotina de ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o governo de Jair Bolsonaro.
Interrogatórios
Até a próxima sexta-feira (13), Alexandre de Moraes vai interrogar presencialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, Braga Netto e mais seis réus acusados de participar do "núcleo crucial" de uma trama para impedir a posse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o resultado das eleições de 2022.
O interrogatório dos réus é uma das últimas fases da ação penal. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus ocorra no segundo semestre deste ano.
Em caso de condenação, as penas passam de 30 anos de prisão.