O Brasil acaba de entrar mais fundo na corrida global pelos medicamentos voltados ao controle da obesidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta segunda-feira (9), o uso do Mounjaro — da farmacêutica Eli Lilly — para tratar pacientes com obesidade ou sobrepeso associado a comorbidades como hipertensão, colesterol alto ou pré-diabetes.
A nova indicação se soma à já autorizada desde maio, voltada ao controle do diabetes tipo 2. Agora, a Lilly aposta que a ampliação da bula será decisiva para impulsionar sua presença no mercado brasileiro e rivalizar diretamente com o Ozempic, da concorrente Novo Nordisk.
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Um mercado em expansão acelerada
Estima-se que os medicamentos para emagrecimento possam movimentar até US$ 199 bilhões por ano nos próximos anos, segundo projeções do banco Barclays. É um dos segmentos mais promissores da indústria farmacêutica, e o Brasil, com índices crescentes de obesidade, se tornou um mercado estratégico.
A Lilly não esconde suas ambições: pretende multiplicar por cinco sua atuação no país até 2030. O Mounjaro é visto como peça-chave nessa expansão, ao lado de outros tratamentos inovadores, como os voltados para câncer e Alzheimer.
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“Somos mais eficazes, e os médicos já estão preparados para prescrever esse medicamento”, afirmou Karla Alcázar, presidente da farmacêutica na América Latina, em entrevista à revista Exame. Ela acredita que o Mounjaro poderá colocar a Lilly na liderança do setor no país.
O que é o Mounjaro?
Comercializado em canetas injetoras de uso semanal, o Mounjaro utiliza a tirzepatida, uma molécula que atua de forma dupla nos hormônios GIP e GLP-1, envolvidos no controle da glicose, da saciedade e do gasto calórico. Essa abordagem diferencia o remédio de concorrentes como o Ozempic, cuja ação se restringe ao GLP-1.
Estudos clínicos indicam que a tirzepatida promove perda de peso média de até 24 kg, contra cerca de 17 kg com a semaglutida, substância ativa do Ozempic. A eficácia no controle glicêmico também impressiona: mais de 90% dos pacientes tratados com a maior dose de tirzepatida conseguiram reduzir a hemoglobina glicada para níveis considerados saudáveis.
Quem pode usar?
Com a nova liberação, o Mounjaro poderá ser indicado para adultos com IMC a partir de 30 (obesidade) ou a partir de 27 (sobrepeso), desde que haja comorbidades associadas. A formulação já está disponível em farmácias brasileiras nas doses de 2,5 mg e 5 mg. O tratamento mensal, com quatro canetas, pode custar entre R$ 1.406 e R$ 2.384, dependendo do ponto de venda e da participação do paciente em programas de acesso da própria Lilly.
Patente e segurança
A Lilly detém a patente do medicamento até, pelo menos, 2035. A empresa faz questão de alertar que não existem versões genéricas legalmente autorizadas. “Só a Lilly fornece a tirzepatida com garantia de procedência e qualidade”, destacou Alcázar.
A farmacêutica baseou o pedido de aprovação nos resultados do programa internacional SURMOUNT, que avaliou mais de 20 mil pacientes ao longo de sete estudos clínicos. Os dados reforçaram não apenas a segurança da substância, mas também sua eficácia superior frente aos tratamentos já disponíveis.
O que vem pela frente?
Com a aprovação no Brasil, o Mounjaro fortalece sua posição em um dos mercados mais promissores para a Lilly fora dos Estados Unidos. A expectativa é de forte crescimento nas vendas e maior acesso a tratamentos modernos contra a obesidade, condição que já afeta mais de 20% da população adulta brasileira.
A rivalidade com o Ozempic, até então o protagonista na luta contra o excesso de peso, promete se intensificar. Mas, para os pacientes, a disputa pode significar mais opções, mais inovação — e, possivelmente, preços mais acessíveis no futuro.