Um estudo publicado na revista Nature, conduzido por pesquisadores da Escola de Medicina de Stanford, nos Estados Unidos, descreve o desenvolvimento em laboratório de uma molécula natural que reproduziria, no organismo, os efeitos de um supressor de apetite como o Ozempic, incentivando a perda de peso.
A molécula se assemelharia aos efeitos da semaglutida, o princípio ativo que compõe o medicamento desenvolvido pela Novo Nordisk, usado para o tratamento de diabetes tipo 2 em adultos e responsável pela secreção de insulina e pela sensação de saciedade no organismo, afirma o estudo.
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Em estudos feitos com animais, a nova molécula, chamada BRP, "demonstrou benefícios similares" àqueles apresentados pelo composto do Ozempic, mas sem seus "efeitos colaterais comuns", como a náusea, a constipação e a perda muscular significativa.
Isso ocorre porque os receptores ativados pela semaglutida, encontrados no cérebro, nas vísceras, no pâncreas e em outras formações de tecido, causam efeitos que se espalham pelo sistema digestivo, mas a BRP, a molécula descrita pelo estudo, atua especificamente no hipotálamo, o que significa que controla apenas o apetite e o metabolismo — sem afetar negativamente outros tecidos do corpo.
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A pesquisa usou modelos de inteligência artificial a fim de analisar mais de uma dúzia de proteínas da mesma classe, os pró-hormônios, que circulam na corrente sanguínea como hormônios em sua forma inativa, e ficam prontos para serem "ativados" por modificações no organismo.
Essas moléculas são ativadas quando são ligadas a outras proteínas, e então transformadas em pequenos pedaços chamados de peptídeos, que funcionam como hormônios reguladores de alguns processos biológicos, como aqueles ligados ao metabolismo.
A produção da BRP
Durante testes de laboratório, os cientistas identificaram um pró-hormônio capaz de separar sequências específicas de aminoácidos conhecidos por sua relação com a obesidade; e, a partir de simulações feitas com IA, identificaram uma série de peptídeos envolvidos na transformação de energia ligada a essas moléculas.
A partir da "filtragem" dos modelos de inteligência artificial, os pesquisadores foram capazes de identificar centenas de milhares desses peptídeos, além dos genes responsáveis pela codificação das proteínas e seus locais de "clivagem", o processo de quebra das ligações peptídicas e dos aminoácidos.
Assim, foi possível separar aquelas sequências mais possíveis de serem ativadas no cérebro, teste que foi feito utilizando células neuronais cultivadas em laboratório.
O resultado da pesquisa foi a obtenção de um pequeno peptídeo formado de 12 aminoácidos, que os pesquisadores denominaram BRP, e que se liga, no organismo, ao pró-hormônio BPM.
Ao testar o efeito do BRP em camundongos de laboratório, eles descobriram que a injeção intramuscular da proteína, no período anterior ao horário de alimentação dos animais, poderia reduzir seu consumo de comida em até 50%.
Em camundongos obesos tratados com injeções diárias de BRP durante 14 dias, observou-se uma perda de gordura de até 3 gramas, assim como uma melhoria nos níveis de glicose e na tolerância à insulina.
Além disso, os caminhos neurológicos ativados pela BRP se demonstraram distintos e separados daqueles que são ativados pela semaglutina, do Ozempic. Isso quer dizer que os efeitos colaterais gerados pela ativação da semaglutina não foram identificados na administração da nova molécula, que pode significar, agora, um novo avanço no tratamento da obesidade.