Após insistir na importância de incorporar a Groenlândia como parte oficial do território dos EUA por questões estratégicas de "segurança nacional", o presidente norte-americano Donald Trump ameaçou, como é de costume à sua "geopolítica de pressão econômica", taxar massivamente os produtos de importação da Dinamarca em rechaço.
A ameaça foi feita caso o país nórdico não aceite "vender" a Groenlândia aos EUA, um território hoje considerado autônomo, com cerca de 40 mil habitantes, que integra o Reino da Dinamarca. A isso, autoridades dinamarquesas responderam pontualmente com a deixa para que, se assim desejar, a Groenlândia alcance a independência.
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Mas as ameaças de tarifaço comercial de Trump, que atira para todos os lados com esse discurso (também usado contra o México, o Peru e os países que compõem o grupo Brics), podem sair pela culatra quando se trata da Dinamarca, de quem os EUA importam cerca de US$ 5.7 bilhões em farmacêuticos, como informa a CNN, a partir de dados coletados pelo relatório anual de comércio das Nações Unidas.
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Apesar de não ser um parceiro comercial robusto dos EUA, a Dinamarca, sede da gigante Novo Nordisk, que produz o medicamento Ozempic, é essencial para o fornecimento de fármacos importantes para o mercado de saúde do país, especialmente aqueles usados para o tratamento da obesidade e da diabetes.
Hoje, a produção do Ozempic é monopólio da Novo Nordisk, que é também a maior produtora de insulina do mundo (fornece a cerca de 50% do mercado mundial). Com o medicamento revolucionário no tratamento do sobrepeso, a farmacêutica teve um crescimento no seu valor estimado em quase US$ 300 bilhões nos últimos anos.
"Se Trump impuser tarifas à Dinamarca, elas podem aumentar temporariamente o preço de consumo dos muito cobiçados Ozempic e Wegovy [também utilizado no tratamento da obesidade]", afirma a reportagem da CNN. Qualquer taxação sobre as importações do país pode significar, portanto, um aumento expressivo nos preços do produto no mercado americano, o que teria grandes implicações de tratamento.
De acordo com dados da Novo Nordisk, 25 mil norte-americanos iniciam um tratamento com Ozempic toda semana. Em 2024, 1 em cada 8 adultos nos EUA já havia usado Ozempic ou medicamentos similares, e cerca de 6% da população adulta fazia tratamento médico dessa espécie, para perda de peso ou tratamento de diabetes.
As drogas chegaram a sofrer uma escassez de mercado nos EUA devido à sua demanda crescente em maio do ano passado.
De maneira geral, a maioria dos ingredientes usados para a fabricação do Ozempic são produzidos na Dinamarca, embora a Novo Nordisk já explore opções para a produção de alguns ativos em laboratórios nos EUA, como é o caso de um projeto na Carolina do Norte.
No entanto, as tarifas prometidas por Trump poderiam causar fenômenos de manada, como a necessidade de estocar o medicamento, o que provocaria um colapso de mercado e um aumento excessivo de preços, indicam especialistas ouvidos pelo veículo norte-americano.