AGROTÓXICO

Estudo brasileiro encontra traços de agrotóxicos proibidos em fórmulas infantis

As fórmulas infantis são leites artificiais que servem de alimento a bebês e recém-nascidos como substitutos totais ou parciais do leite materno, por seu alto valor nutricional

Mãe segura mão de bebê recém-nascido.Créditos: Unsplash
Escrito en SAÚDE el

Um estudo conduzido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da Unicamp, e publicado em duas análises nos periódicos Journal of Chromatography A e Journal of Food Composition and Analysis identificou traços de agrotóxicos, alguns deles de uso proibido no Brasil, e de micotoxinas (tóxicos produzidos por fungos) em amostras de fórmulas infantis comercializadas nacionalmente, afirma o Jornal Unicamp.

As fórmulas infantis são leites artificiais processados e comercializados para servir de alimento a bebês e recém-nascidos como substitutos totais ou parciais do leite materno por seu alto valor nutricional. 

A pesquisa avaliou 30 amostras de fórmulas disponíveis no mercado brasileiro, baseando-se numa lista inicial de 23 possíveis contaminantes, 19 deles agrotóxicos classificados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e 4 micotoxinas. 

Os resultados da análise inicial revelaram traços em quantidades abaixo dos limites considerados inseguros pela União Europeia (UE) de fenitrotiona, clopirifós e bifentrina, além das alfatoxinas B1, B2, G1 e G2. 

Apesar dos níveis considerados seguros dessas substâncias encontradas nas amostras, sua presença já é um sinal de alerta, afirma Marcella Vitória Galindo, que participou do estudo, devido à baixa capacidade inicial do organismo dos bebês de absorver e eliminar os tóxicos.

Em 10% das amostras analisadas, foram encontrados traços de carbofurano, um agrotóxico de uso proibido no Brasil desde 2017, por ser considerado tóxico e cancerígeno, com evidências de efeitos teratogênicos, que podem causar malformações físicas e neurológicas no desenvolvimento embrionário.

Isso pode ter ocorrido, de acordo com a especialista, pela bioacumulação do tóxico, que, mesmo quando não utilizado, pode permanecer no solo e contaminar as culturas e, consequentemente, os alimentos. 

Além disso, 32 dos compostos identificados eram "agrotóxicos não previstos", hormônios e medicamentos veterinários, que podem contaminar as cadeias produtivas de matérias-primas usadas na composição das fórmulas, a exemplo do leite de vaca e de cabra. 

Em 86,6% dos compostos avaliados foram encontradas substâncias como ftalimida, cis-1,2,3,6-tetrahidroftalimida, pyridaben, bupirimate, piperonil butóxido e metamidofós, informa a pesquisa; e, dentre elas, duas destacam-se por terem sido encontradas em quantidades acima do limite estabelecido pela UE: foi o caso da ftalimida, usada industrialmente para a produção de plásticos e de corantes, e da cis-1,2,3,6-tetrahidroftalimida, composto orgânico usado na produção de agroquímicos, fármacos e outros.

Os próximos passos da pesquisa devem envolver, agora, a análise de leite materno, informa o jornal, a fim de entender os contaminantes que vêm do ambiente e do estilo de vida das mães.

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