AGROTÓXICOS

Exposição a agrotóxicos e tipo de câncer comum têm ligação direta, diz estudo conduzido no Brasil

A partir de dados colhidos entre 758 mulheres paranaenses — entre elas, agricultoras e mulheres sem qualquer contato com atividades de agricultura —, o estudo concluiu que a presença de químicos no organismo eram os fatores associados ao maior risco deste tipo de câncer

Homem aplica agrotóxicos em plantação.Créditos: Pixabay
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Um estudo liderado por Ana Carolina Panis, bioquímica, professora do curso de medicina da Unioeste e professora visitante na Universidade de Harvard, fruto de uma parceria entre o Departamento de Saúde Global de Harvard e a universidade em que ela leciona, tem indicado, desde 2014, uma associação direta entre casos de câncer de mama e o contato das mulheres afetadas com substâncias químicas presentes em agrotóxicos de uso comum, empregados de forma extensiva em culturas no estado do Paraná.

Panis iniciou sua investigação a partir de conversas conduzidas com o perfil mais comum de mulheres afetadas pelo câncer de mama na região em que atua como docente, no município de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná. 

Por meio das conversas e de análises do grupo demográfico, ela notou que, de dez mulheres portadoras de câncer de mama, pelo menos sete tinham alguma ligação com atividades de agricultura e, consequentemente, com os agrotóxicos empregados nas plantações. 

Indo mais longe no contato com as pacientes, Ana Carolina Panis começou a investigar o quê, na vida doméstica das mulheres, poderia colocá-las em contato com os químicos carcinogênicos. As mulheres não aplicavam os tóxicos nas plantações — esse trabalho era reservado aos homens. Então, o que poderia explicar a correlação entre esse tipo de câncer e os químicos?

Através de visitas domiciliares, Panis acompanhou o cotidiano das mulheres, e logo pôde acessar o motivo: a tarefa de aplicar os tóxicos ficava para os maridos, mas a de lavar as roupas usadas durante o dia de trabalho, contaminadas com as substâncias químicas que invariavelmente ultrapassavam os equipamentos de proteção (EPIs) e atingiam o tecido das roupas, ficava com as mulheres.

E era assim, lavando diariamente as roupas dos filhos e dos maridos que trabalhavam nas lavouras e faziam a aplicação de químicos nas plantações, que as mulheres se submetiam ao contato com pesticidas comuns na região rural no sudoeste do Paraná, em que o uso desses químicos se dá acima da média nacional, concentrado principalmente nas plantações de milho e soja. 

De acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do estado, o Paraná é o segundo maior consumidor de agrotóxicos do Brasil. Em 2019, o volume total chegou a 95.286,8 toneladas de químicos utilizados em plantações. Entre 2013 e 2020, a taxa de tóxicos utilizados por hectare aumentou de 8,87kg/hectare para 9,82 kg/hectare. O Brasil é, além disso, o país que mais utiliza agrotóxicos no mundo.

O câncer de mama entre as paranaenses, aliás, também está acima do índice nacional: é até 40% maior naquele estado, como informa o jornal H2Foz. 

Através de estudos comparativos, Panis pôde concluir que, entre as mulheres expostas aos químicos, a incidência de câncer era maior, e ele costumava se manifestar de forma mais agressiva, com maiores riscos de metástase e menores chances de sobrevida. 

A partir de dados colhidos entre 758 mulheres paranaenses — entre elas, agricultoras e mulheres sem qualquer contato com as atividades de agricultura, residentes de áreas urbanas —, o estudo concluiu que a presença de químicos de herbicidas no organismo as mulheres, como a atrazina, o glifosato e o 2,4D diclorofenoxiacético (um dos componentes do "Agente Laranja", desfolhante químico usado como arma de guerra durante a Guerra do Vietnã), eram os fatores associados ao maior risco de câncer de mama, e o contato ocorria durante a atividade corriqueira de lavar as roupas no tanque.

 

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