O monitoramento da frequência cardíaca se tornou uma prática cada vez mais comum entre os praticantes de atividades físicas, impulsionado pelo avanço dos dispositivos vestíveis. Smartwatches e anéis inteligentes ajudam a acompanhar o desempenho durante os treinos, a qualidade do sono e os níveis de estresse ao longo do dia, analisando os batimentos cardíacos em tempo real.
A tecnologia utilizada nesses dispositivos permite até mesmo a personalização de treinos, adaptando as recomendações com base na variação das métricas de saúde. Para atletas de alto rendimento, esses sensores podem ser aliados essenciais. Mas como funcionam essas medições e qual a confiabilidade dos resultados?
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A tecnologia por trás da medição
A maioria dos dispositivos utiliza a fotopletismografia (PPG), um método que mede a absorção de luz pelos tecidos corporais para identificar alterações no fluxo sanguíneo. Segundo o Dr. Peter Sogaard, professor de cardiologia da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, e diretor médico da VentriJect, a técnica se baseia na detecção das variações no volume de sangue nos vasos capilares da pele.
O princípio é simples: a cada batimento, o coração se contrai (fase sistólica), empurrando sangue pelas artérias, aumentando a pressão. Quando relaxa (fase diastólica), o fluxo diminui. Os sensores ópticos captam essas mudanças por meio da emissão de luz em comprimentos de onda específicos, como LED verde ou infravermelho. A hemoglobina, presente no sangue, absorve parte dessa luz, e o fotodetector do aparelho mede a quantidade refletida, transformando essas informações em dados sobre a frequência cardíaca.
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Precisão e limitações
Embora amplamente utilizados, os sensores PPG não estão isentos de falhas. O Dr. Masaki Nakamura, cirurgião cardiotorácico do Baptist Health Miami Cardiac & Vascular Institute, destaca que fatores como posicionamento inadequado do dispositivo, temperatura corporal e até características da pele podem influenciar a precisão das medições.
Estudos apontam que as leituras são mais confiáveis em repouso e durante o sono do que em atividades intensas. Uma pesquisa publicada no Journal of Sports Sciences mostrou que exercícios como levantamento de peso e ciclismo podem gerar distorções devido ao movimento excessivo. Mesmo com algoritmos corretivos, os artefatos de movimento seguem sendo um desafio.
Outro aspecto relevante é o contato do sensor com a pele. Um dispositivo muito apertado ou frouxo pode comprometer a captação dos sinais. Além disso, temperaturas baixas podem contrair os vasos sanguíneos, dificultando a leitura dos sensores.
A cor da pele e tatuagens também interferem na precisão. Tanto a melanina quanto a tinta absorvem parte da luz, reduzindo a quantidade refletida e, consequentemente, a confiabilidade da medição. Um estudo publicado no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities indicou que a PPG pode ser menos eficaz em pessoas com tons de pele mais escuros.
Pessoas com obesidade também podem encontrar dificuldades na captação dos dados. Segundo uma revisão do periódico Biosensors, o excesso de gordura pode alterar a espessura da pele e o fluxo sanguíneo, afetando a precisão dos sensores ópticos. Para contornar essas limitações, cientistas trabalham no aprimoramento da tecnologia.
Monitoramento contínuo e uso clínico
Apesar das limitações, a PPG pode ser uma ferramenta útil no monitoramento de pacientes com doenças cardiovasculares. O acompanhamento constante da frequência cardíaca e da pressão arterial pode ajudar na prevenção de infartos, AVCs e insuficiência cardíaca. No entanto, Nakamura alerta que esses dispositivos não substituem exames clínicos convencionais.
Embora os wearables sejam eficientes para uso cotidiano, métodos tradicionais como o eletrocardiograma e o esfigmomanômetro ainda são os mais precisos para diagnósticos médicos. Elementos como estresse, consumo de cafeína e até a "síndrome do jaleco branco" podem afetar medições pontuais, reforçando a necessidade de avaliação profissional.
Os rastreadores de frequência cardíaca se consolidaram como aliados no bem-estar e na prática esportiva, mas seu uso deve ser complementar, e não substitutivo, às análises médicas especializadas.
*Com informações de Lives Science.