Um estudo publicado em 5 de março na revista Nature revelou que um medicamento comum, vendido em farmácias sem receita médica, pode ajudar a impedir que alguns tipos de câncer se espalhem pelo corpo.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, descobriu que a aspirina tem potencial para reduzir a chamada metástase, disseminação de células cancerígenas do tumor original para outras partes do organismo, ao estimular o sistema imunológico.
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Os pesquisadores queriam entender melhor como o sistema imunológico responde à metástase. Isso ocorre porque, quando células cancerígenas individuais se separam de seu tumor de origem e se espalham para outras partes do corpo, elas são particularmente vulneráveis ao ataque imunológico.
"Apesar dos avanços no tratamento primário do câncer, muitos pacientes tratados para cânceres em estágio inicial desenvolvem recorrência metastática meses a anos depois devido ao eventual crescimento de micrometástases disseminadas", explicam os cientistas no estudo, financiado principalmente pelo Medical Research Council (MRC).
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Como as micrometástases são vulneráveis ao ataque imunológico, isso cria uma oportunidade para terapias que utilizam o sistema imunológico para prevenir a recorrência em pacientes com câncer em estágio inicial com risco de metástase.
O mecanismo da aspirina
No teste com camundongos que receberam aspirina, a frequência de metástases foi reduzida em comparação com camundongos de controle. E a pesquisa descobriu que o medicamento previne a disseminação de células cancerígenas ao diminuir o TXA2, produzido pelas plaquetas, células na corrente sanguínea que ajudam o sangue a coagular, liberando células T da supressão.
"Foi um momento de Eureka quando descobrimos que o TXA2 era o sinal molecular que ativa esse efeito supressor nas células T", explica o pesquisador Jie Yang, que realizou a pesquisa na Universidade de Cambridge. "Antes disso, não tínhamos conhecimento da implicação de nossas descobertas na compreensão da atividade antimetastática da aspirina. Foi uma descoberta totalmente inesperada que nos enviou por um caminho de investigação bem diferente do que havíamos previsto."
Ele destaca a possibilidade de se desenvolver um tratamento que possa ser acessado por mais pessoas. "A aspirina, ou outros medicamentos que podem ter como alvo essa via, têm o potencial de ser mais baratos do que as terapias baseadas em anticorpos e, portanto, mais acessíveis globalmente", aponta.
Otimismo cauteloso
"Acredito que a mensagem apropriada para pacientes com câncer seja de otimismo cauteloso equilibrado com orientação médica", diz o professor Rahul Roychoudhuri, da Universidade de Cambridge, em entrevista à Newsweek.
A professora Ruth Langley, da Unidade de Ensaios Clínicos do MRC na University College London, profissional que liderou o estudo, pontua que a pesquisa permitirá interpretar os resultados de ensaios clínicos em andamento e descobrir quem tem mais probabilidade de se beneficiar da aspirina após um diagnóstico de câncer.
"Em uma pequena proporção de pessoas, a aspirina pode causar efeitos colaterais sérios, incluindo sangramento ou úlceras estomacais. Portanto, é importante entender quais pessoas com câncer provavelmente se beneficiarão e sempre conversar com seu médico antes de começar a tomar aspirina", explica.