Bactérias presentes no nariz foram projetadas por pesquisadores para conseguir transportar medicamentos ao cérebro de ratos.
O estudo foi publicado na Cell, uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, no início de fevereiro. As bactérias foram usadas para fornecer hormônios supressores de apetite a camundongos obesos, que perderam peso após o procedimento.
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A experiência é um dos exemplos mais recentes de esforços generalizados para o aproveitamento de bactérias para fornecer medicamentos de forma mais eficaz nas partes do corpo nas quais eles são mais necessários.
“Os medicamentos muitas vezes não chegam muito bem onde precisam ir”, explica a bioengenheira da Universidade de Illinois, Shannon Sirk, à revista Nature. “Se você puder melhorar a entrega, poderá minimizar os efeitos colaterais e reduzir a carga sobre os pacientes.”
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Embora o estudo aponte caminhos promissores, ele está longe de poder ser reproduzido em humanos. Segundo os autores, "estudos relatam que os agentes terapêuticos administrados por via intranasal apresentaram biodisponibilidade significativamente maior no cérebro, evitaram o metabolismo de primeira passagem no fígado e reduziram os efeitos colaterais sistêmicos", o que justifica a busca por esse tipo de administração de medicamento.
Nova estratégia
Como o cérebro é um local mais difícil para um sistema de distribuição bacteriana atuar, já que é protegido por uma barreira que geralmente exclui micróbios, bem como algumas moléculas, o biólogo sintético da Universidade Nacional de Cingapura, Matthew Wook Chang, e sua equipe decidiram aproveitar uma porta de entrada pouco aproveitada: o nariz.
Primeiro, foi preciso determinar quais micróbios potencialmente úteis residem lá. “O microbioma nasal permanece relativamente inexplorado, apesar da conexão direta da cavidade nasal com o cérebro”, diz Chang à Nature.
Os autores examinaram cinco cepas de Lactobacillus, gênero considerado seguro e utilizado em suplementos de saúde. A partir daí, verificaram sua capacidade de se ligar a uma molécula encontrada em uma membrana chamada epitélio olfatório, que reveste parte da passagem nasal superior e é conectado ao cérebro por nervos.
Com a cepa Lactobacillus plantarum, os pesquisadores a modificaram geneticamente para produzir e secretar uma variedade de moléculas, incluindo três hormônios reguladores do apetite. Os camundongos obesos que receberam uma dose da bactéria no nariz todos os dias durante oito semanas comeram menos e perderam peso no período de tratamento.
"Concluindo, a metodologia proposta aqui abriga um potencial significativo para o avanço de novas modalidades terapêuticas visando uma infinidade de patologias cerebrais e catalisa mais investigações dentro do reino da transmissão farmacológica intranasal. Mais pesquisas sobre o microbioma olfativo e seus efeitos exercidos sobre distúrbios neuropsiquiátricos são indispensáveis ??para ampliar nossa compreensão e avançar no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas", resumem os autores do estudo.