TRATAMENTO DESIGUAL

“Embora mulheres vivam mais que homens, passam mais tempo com menos saúde", diz estudo

Na maioria das consultas médicas, sintomas das mulheres não são levados a sério e, ao adiarem o próprio cuidado por cuidar dos outros, elas enfrentam diagnósticos tardios, revela levantamento

Mulheres à espera por atendimento em hospital do DF.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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De acordo com um estudo do instituto McKinsey Health (MHI), as mulheres, ao ficarem sobrecarregadas com o trabalho do cuidado, acabam negligenciando seu próprio, e como consequência, enfrentam diagnósticos errados ou tardios para mais de 700 doenças. Além disso, elas arcam com custos mais altos em cuidados de saúde, gastando 18% a mais do que os homens, e enfrentam desigualdades substanciais nesta seara.

As mulheres, ao longo da história, foram limitadas papéis pré-definidos, sendo a maternidade vista como sua maior contribuição esperada. Embora para muitas a experiência materna seja profundamente significativa, é fundamental compreender que os anseios e objetivos das mulheres vão além dessa expectativa. Tal como os homens, elas devem ter a liberdade de escolher como pretendem viver, sem estarem limitadas pelas imposições de gênero.

A pesquisa do instituto, que contempla esse recorte de gênero, abarca mulheres da América Latina. Outro dado, da Deloitte, também aponta que, durante os anos produtivos, as mulheres ficam 25% mais tempo com a saúde comprometida, desafiando a ideia de que vivem mais apenas por terem mais saúde. Elas são, na verdade, sobreviventes, e é crucial que essa realidade seja transformada rapidamente, segundo as autoras.

É preciso garantir o direito das mulheres à saúde. O Instituto McKinsey Health, em colaboração com o Centro de Saúde e Assistência Sanitária do Fórum Econômico Mundial (WEF), também revela que resolver esses problemas adicionaria mais de 51 bilhões de dólares ao PIB anual da América Latina até 2040.

"O triste fato de que, embora as mulheres vivam mais que os homens, passamos mais tempo com a saúde debilitada", afirma Stephanie Sassman, líder da saúde da mulher para Genentech/Roche.

Valentina Sartori, sócia da McKinsey & Company e líder afiliada do McKinsey Health Institute, destacou que "apenas 5% das doenças na mulher é devido a condições específicas do sexo feminino (saúde materna e cânceres ginecológicos). Outros 4% são causados por condições que afetam a mulher de maneira diferente, como doenças cardiovasculares, e 47% são por doenças que a afetam de forma desproporcional, como as autoimunes ou a enxaqueca". 

Na maioria dos casos, ao serem atendidas por médicos homens, “elas vão à sala de urgências e são enviadas de volta para casa enquanto estão tendo um 'ataque cardíaco'”

“São as mulheres que devem ser as responsáveis por levantar essas questões, com o objetivo de resolver os problemas de saúde da mulher”, destaca o relatório sobre ser algo além da representatividade. (Leia o estudo completo ao final da matéria).

Mulheres são levadas menos a sério em consultas

A forma como os médicos interpretam a dor das mulheres pode variar em relação à percepção da dor nos homens, de acordo com pesquisadores. Essa diferença de percepção pode levar a interpretações machistas e equivocadas sobre a intensidade da dor relatada pelas mulheres.

Um estudo divulgado em agosto de 2024 mostra que médicos tratam de maneira desigual a dor entre homens e mulheres durante as consultas médicas. A análise, feita em hospitais de Israel e dos Estados Unidos, revela que as mulheres esperam mais tempo para atendimento e têm menos chances de receber analgésicos do que os homens. As conclusões foram publicadas na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Segundo Alex Gileles-Hillel, coautor do estudo e médico-cientista do Centro Médico da Universidade Hadassah-Hebraica em Jerusalém, em entrevista à Nature, “as mulheres são vistas como exageradas ou histéricas e os homens são vistos como mais estoicos quando reclamam de dor”. 

Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após examinar mais de 20 mil registros de alta de pacientes atendidos em emergências de hospitais dos Estados Unidos e Israel, que buscavam tratamento para dores "não específicas" — ou seja, sem uma causa aparente. A pesquisa revelou que, ao chegarem aos hospitais, as mulheres tinham 10% menos probabilidade que os homens de terem sua dor registrada com uma pontuação — uma escala de um a dez fornecida pelo paciente para indicar a intensidade do sintoma.

Além disso, no Brasil, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) aponta que a as mulheres negras têm acesso reduzido à saúde em comparação com a população branca. O levantamento também destaca que 11,9% dos negros e 11,4% dos pardos foram alvo de discriminação nos serviços de saúde. O maior grupo populacional do país são as mulheres negras, totalizando 60,6 milhões, sendo 11,3 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de mulheres pardas, que juntas representam mais de 28% da população brasileira.

Confira abaixo o relatório completo do Instituto McKinsey Health:

 

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