77 espécies amazônicas diminuíram de tamanho com o avanço dos efeitos climáticos, diz estudo

A mudança na média de tamanho das 77 espécies de aves da floresta amazônica analisadas está relacionada, de acordo com os cientistas, às mudanças avistadas no clima e na vegetação amazônicas nas últimas décadas 

Floresta amazônica.Créditos: Free source
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De acordo com um estudo publicado no periódico Science Advances, que coletou dados morfométricos de uma comunidade de aves amazônicas, pelo menos 77 espécies "apresentaram uma média de massa [corporal] menor desde o início da década de 1980". 

A mudança na média de tamanho das 77 espécies de aves da floresta amazônica analisadas está relacionada, de acordo com os cientistas, às mudanças avistadas no clima e na vegetação amazônicas nas últimas décadas — e pelo menos um terço das espécies que compuseram a amostra teve um aumento simultâneo no tamanho das asas, que ocorreu junto à diminuição da massa corporal. 

"Atribuímos esses resultados às pressões para aumentar a economia de recursos devido ao aquecimento", diz o estudo. "As mudanças morfológicas sazonais e de longo prazo sugerem uma resposta às mudanças climáticas".

Nas análises, as reduções de tamanho corporal das aves foram correlacionadas ao aumento crescente das temperaturas no bioma, e o crescimento de suas asas, à necessidade de manter seus padrões migratórios. 

Desde 1966, os padrões de chuva têm sido alterados no bioma amazônico, com uma tendência sempre maior aos extremos, representada pelo aumento de até 13% da precipitação em temporadas de chuva e uma diminuição de 15% das chuvas nas temporadas de secas.

Já a temperatura aumentou de forma linear em ambas as temporadas — registrou-se um aumento de cerca de 1°C nas temporadas de chuvas, e de 1,65°C nas temporadas de seca. 

Comparando essas mudanças no clima às alterações no padrão de massa das espécies analisadas, os cientistas concluíram que há uma probabilidade de até 90% de que as 77 espécies amazônicas que  demonstraram "uma diminuição considerável" nas suas massas tenham acompanhado as mudanças de temperatura, e o fenômeno coincide com o crescimento de suas asas ao longo do tempo.

"As aves se mostravam mais leves quando condições climáticas mais quentes e secas ocorriam nas medições", afirmam os cientistas, "e essa relação se tornava ainda mais forte quando as condições de seca se intensificavam no ano posterior".

Isso significa que os declínios na massa corporal das aves "seguem a expectativa dos 'tamanhos corporais menores sob climas mais quentes'" nas florestas tropicais.

Os pássaros estão mais expostos às mudanças climáticas do que mamíferos, e aves tropicais são ainda mais vulneráveis devido à sazonalidade das mudanças nas florestas tropicais.

"Modelos temporais indicaram que todas as 77 espécies [amazônicas] apresentaram diminuição de sua massa média", com 95% de probabilidade dessa correlação para quase metade da comunidade analisada. 

Os estudos também mostraram, no entanto, que o efeito dessa tendência tendia a desaparecer quando havia um controle das temperaturas. 

E, apesar de essa espécie de mudança morfológica levar séculos para ocorrer na natureza, o avanço das mudanças climáticas e seus efeitos mais intensos sobre as populações animais — sobretudo nos espaços tropicais — tem tornado esse processo mais rápido, afirmam pesquisadores. Os efeitos têm sido avaliados, agora, em termos de décadas.

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