Após concluir as investigações acerca da atuação da Prevent Senior durante a pandemia de Covid-19, o Ministério Público de São Paulo denunciou nesta quarta-feira (5) um grupo de diretores da empresa por sete homicídios culposos, quando não há a intenção de matar. Entre os denunciados estão Eduardo e Fernando Parrilo, os donos da empresa.
O inquérito foi aberto em setembro de 2021 após uma série de denúncias contra a empresa se tornar pública na CPI da Covid-19. À época, médicos disseram que a Prevent Senior pressionava os profissionais pela liberação de leitos de UTI de pacientes muito custosos. Essa liberação de leitos resultava no envio do paciente aos cuidados paliativos. Além disso, a empresa é acusada de distribuir o chamado ‘Kit Covid’ para os pacientes, cuja eficácia já era rejeitada cientificamente.
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Os diretores foram tornados réus pelo crime de perigo, quando se oferece risco à saúde, integridade e vida das vítimas. O que motivou a decisão dos promotores foi a distribuição do ‘Kit Covid’.
Para o promotor Everton Zanella, responsável pelo caso, havia “indícios de condutas ilícitas, como a indicação de tratamentos não eficazes e a morte de pacientes”.
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Cada uma das sete denúncias de homicídio culposo pode render, caso os diretores sejam condenados, penas de um a três anos de prisão. O período compreendido pela investigação vai de março de 2020 a setembro de 2021 – começa com o início da pandemia e termina com a própria abertura do inquérito.
No período analisado, a Prevent Senior comprou mais de um milhão de doses de hidroxicloroquina, o medicamento favorito de Jair Bolsonaro (PL) e demais negacionistas à época, justamente por não ter eficácia comprovada cientificamente.
Para o promotor, as compras exageradas apontam uma possível tentativa de experimentação do medicamento, utilizando os próprios pacientes como cobaias não consentidas. À época das denúncias, a empresa foi acusada de fraudar atestados de óbito e 59 prontuários foram analisados.
Paciente denunciou Prevet Senior na CPI da Covid-19
Tadeu Frederico de Andrade, um ex-paciente que se considera “sobrevivente” dos protocolos de gestão de pacientes com Covid-19 da Prevent Senior, também denunciou a empresa. Tinha 64 anos quando recebeu o kit covid após um atendimento remoto da empresa, e antes mesmo de realizar um teste para detectar a infecção por Covid-19. A prescrição dos medicamentos teria sido feita por um terceiro médico, diferente daquele que o atendeu pelo aplicativo. Dias depois, sentindo dores, foi a um pronto-socorro onde ficou constatado que tinha metade de um pulmão tomado por infecção bacteriana e passou quase um mês na UTI.
Ele saiu da UTI quando a geriatra Daniella de Aguiar Moreira da Silva o enviou para o departamento de “cuidados paliativos” – destinados a pacientes que já estão em vias de vir a óbito. A empresa diz que em respeito à família não autorizou o tratamento e os cuidados paliativos não foram iniciados.
No entanto, o prontuário do paciente assinado pela médica recomendava interromper os tratamentos com diálise e antibióticos, além de indicar que não fosse realizada nele eventuais reanimações cardiorrespiratórias. A família pressionou e, com os cuidados paliativos suspensos, ele conseguiu se recuperar.
À CPI, Tadeu denunciou que não fosse pela família, teria morrido. Já a médica que assinou o prontuário chocou o Brasil à época ao afirmar, na mesma CPI, sem envergonhar-se, que na empresa “óbito também é alta”.