Após conseguir uma condenação favorável, que obriga a advogada Bruna Morato a lhe pagar indenização de R$ 300 mil antes mesmo da conclusão das investigações sobre sua atuação na pandemia, a Prevent Senior agora ataca o grupo de médicos representados por Morato e o paciente que denunciou seus protocolos de tratamento precoce e liberação de leitos na CPI da Covid-19.
Ao todo são seis ações que somam R$ 1,2 milhão, duas contra a advogada. Outras três ações, abertas em 2022, miram os ex-médicos da empresa Andressa Hernandes Joppert, George Joppert Neto e Walter Correa de Souza Neto. Os três acusaram a empresa publicamente de pressionar os médicos a prescreverem cloroquina e outros medicamentos sem eficácia contra a Covid-19.
De acordo com a denúncia dos médicos, a empresa também pressionava os profissionais pela liberação de leitos de UTI de pacientes muito custosos. Essa liberação de leitos resultava no envio do paciente aos cuidados paliativos.
O sexto processo mira Tadeu Frederico de Andrade, um ex-paciente que se considera “sobrevivente” dos protocolos de gestão de pacientes com Covid-19 da Prevent Senior. Ele é acusado de ter mentido no Senado e a empresa cobra R$ 100 mil de indenização por danos morais. A ação considera que Tadeu faz parte de um grupo de pessoas que “aproveitando-se dos holofotes provenientes de apurações sobre o uso do tratamento precoce de combate à Covid-19, tentou transformar esses fatos em teorias da conspiração descabidas e inverídicas”.
Tadeu tinha 64 anos quando recebeu o kit covid após um atendimento remoto da empresa, e antes mesmo de realizar um teste para detectar a infecção por Covid-19. A prescrição dos medicamentos teria sido feita por um terceiro médico, diferente daquele que o atendeu pelo aplicativo. Dias depois, sentindo dores, foi a um pronto-socorro onde ficou constatado que tinha metade de um pulmão tomado por infecção bacteriana e passou quase um mês na UTI.
Ele saiu da UTI quando a geriatra Daniella de Aguiar Moreira da Silva o enviou para o departamento de “cuidados paliativos” – destinados a pacientes que já estão em vias de vir a óbito. A empresa diz que em respeito à família, que não autorizou o tratamento, os cuidados paliativos não foram iniciados. No entanto, o prontuário do paciente assinado pela médica recomendava interromper os tratamentos com diálise e antibióticos, além de indicar que não fosse realizada nele eventuais reanimações cardiorrespiratórias. A família pressionou e, com os cuidados paliativos suspensos, ele conseguiu se recuperar. À CPI, Tadeu denunciou que não fosse pela família, teria morrido. Já a médica que assinou o prontuário chocou o Brasil à época ao afirmar, na mesma CPI, sem envergonhar-se, que na empresa “óbito também é alta”.
Tadeu também prestou um depoimento ao Ministério Público de São Paulo. No âmbito civil o MP ainda investiga a empresa e, em 2021 a Prevent Senior teve de assinar um Termo de Ajuste de Conduta no qual ficou suspensa a distribuição do kit de “tratamento precoce”. A empresa ainda recusou um segundo TAC, que buscava regular um acordo sobre danos morais coletivos. Na esfera criminal, o MP investiga médicos da empresa sobre possíveis crimes de tentativa de homicídio, lesão corporal, falsidade ideológica, subnotificação de doenças e outros.
A empresa também é acusada de participar de um “estudo” realizado ainda em 2020, sem autorização do Conep (Conselho Nacional de Ética em Pesquisa), que buscava verificar a eficácia da cloroquina e outras medicações ineficazes contra a Covid-19.
Para Tadeu, o processo que responde é “o poste mijando no cachorro”. Ele alega que, enquanto vítima, tem direito de denunciar o que lhe aconteceu. “Se não fosse minha família me salvando, era para eu estar morto agora”, concluiu. Paola Falceta, da Avico (Associação de Vítimas da Covid-19), que representa as famílias de mais de 500 mil vítimas, concorda com Tadeu e coloca que a Prevent Senior está usando a Justiça para intimidar suas vítimas.
Aparentemente está dando certo. Uma mulher que perdeu seu único filho em 2021 após sucessivos erros da empresa falou ao Uol sob a condição de anonimato pois teme virar alvo de represálias, sobretudo na forma de um processo milionário. “Meu advogado me orientou a nem mencionar mais o nome da empresa porque eles são muito poderosos”, afirmou. Ela e seu marido estão abalados, inclusive em termos de saúde, após a morte do filho: “cansamos da vida”.
Em nota à Fórum, a assessoria de comunicação afirmou que "a Prevent Senior confia no Poder Judiciário e, mais uma vez, refuta todas as acusações de que foi vítima, nenhuma delas comprovada. A empresa colabora também com todas as investigações técnicas realizadas por diversos órgãos fiscalizadores por acreditar que restabelecerão a verdade dos fatos".
Relembre o depoimento de Tadeu Andrade à CPI da Covid