O deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), general da reserva e ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, deu uma declaração nesta segunda-feira (7) sobre os 70 anos do Ministério da Saúde em que teceu elogios à atual ministra Nísia Trindade e ao SUS, o Sistema Único de Saúde.
“Ao Ministério da Saúde não poderia deixar de me pronunciar e colocar de maneira clara que o nosso Sistema Único de Saúde é um exemplo para o mundo. Foi a base da defesa durante os momentos mais difíceis que nós passamos nos últimos anos. Foi testado, foi balançado, e funcionou muito bem", disse Pazuello antes de elogiar a ministra.
A fala é curiosa, uma vez que o próprio Pazuello afirmou que “não conhecia o SUS” quando tornou-se o primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro a não peitá-lo no que tangia ao combate à pandemia e o negacionismo científico que marcou o último governo. Anteriores ao então general da ativa, os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich estiveram no comando da pasta e protagonizaram brigas públicas com o ex-presidente que insistia em teses como a da imunidade de rebanho e do tratamento precoce com a famosa cloroquina.
“Não vou manchar minha história por causa da cloroquina”, disse Teich ao deixar o Ministério da Saúde enquanto Pazuello, que chegava em seguida, declarava: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
A pandemia começou em março de 2020. Mandetta e Teich já haviam caído em 15 de maio, quando o general assumia o ministério de forma interina. Durante seu mandato, Pazuello ordenou secretários a assinarem o protocolo da cloroquina; errou o envio de oxigênio para Manaus, enviando o insumo para Macapá; calou-se diante dos hospitais militares que, mesmo com leitos sobrando, não os disponibilizaram para civis; e, de modo geral, é visto como um dos principais responsáveis, ao lado de Bolsonaro, pela desastrosa gestão da pandemia que matou mais de 700 mil brasileiros.
A gestão foi tão desastrosa que chegou a ser taxada como criminosa por um estudo da professora Deisy Ventura, da USP, que comparou as políticas de saúde daquele momento a um verdadeiro massacre silencioso, praticamente uma política de extermínio deliberada. Não falta material online com a pesquisadora.
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O número 2 de Pazuello no Ministério da Saúde era, ninguém mais, ninguém menos, que o coronel Antônio Élcio Franco, hoje investigado como um dos arquitetos dos atos golpistas de 8 de janeiro. À época, gostava de dar entrevistas, em pleno auge da pandemia, com o terno adornado com um broche do Bope do Rio de Janeiro e seu símbolo mórbido: a faca na caveira.
A mensagem era tão clara que o elegante ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, fez uma fala em julho de 2020 dizendo que a política de Pazuello era genocida e que, ao bancá-la, o Exército estaria se associando a um genocídio. O Ministério da Defesa de então tentou intimidá-lo por isso.
Pazuello ainda chamou Porto Velho, a capital de Rondônia, de “Estado”, compareceu a inúmeros eventos sem máscara, incluindo um comício de Bolsonaro, entre outras peripécias, antes de deixar o ministério em 15 de março de 2021. A vacina só chegaria meses depois e, com ela, a amnésia dos brasileiros que em 2022 elegeram uma figura dessa (falta de) categoria para ocupar uma cadeira no Congresso Nacional.