Desde a eclosão da pandemia da covid-19 em 2020, que vitimou, segundo dados reunidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 7 milhões de pessoas em todo o mundo, as pessoas se veem às voltas com o medo de uma nova pandemia surgida pela ação de algum agente infeccioso novo.
Graças ao rápido desenvolvimento de vacinas eficazes, em especial aquelas que utilizaram a tecnologia do RNA mensageiro, a doença causada pelo coronavírus se tornou menos letal, ainda que os efeitos da chamada covid longa desafiem os cientistas. Mais do que doenças novas, algumas que já existem seguem causando vítimas em larga escala.
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Conor Meehan, professor associado em Bioinformática Microbiana da Nothinghan Trent University do Reino Unido, também especializado em epidemiologia molecular de patógenos bacterianos e evolução de microbiomas, aponta em artigo publicado no The Conversation que as três doenças infecciosas que causam maior preocupação às autoridades de saúde pública no mundo são a malária (um parasita), o HIV (um vírus) e a tuberculose (uma bactéria). Juntas, elas matam aproximadamente 2 milhões de pessoas por ano.
Como destaca a OMS, as três são doenças também caracterizadas pela desigualdade. "Elas causam mais danos entre populações cronicamente desfavorecidas. Ou seja, populações que consistem nas pessoas mais pobres, com menor escolaridade e residentes rurais", diz a entidade em relatório.
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"Embora tenha havido um progresso notável na redução da carga geral de cada doença, especialmente na última década, certos grupos ainda apresentam mortalidade e morbidade persistentemente mais altas e menor acesso a intervenções que salvam vidas", aponta.
No entanto, há uma outra doença no horizonte que tem despertado a atenção de especialistas em saúde em todo o mundo, em especial nos Estados Unidos.
Um vírus que se dissemina nos EUA
Em 18 de dezembro, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, declarou estado de emergência em resposta à disseminação da gripe aviária entre o gado leiteiro local. O estado se tornou o epicentro do surto nacional de gado.
"Esta proclamação é uma ação direcionada para garantir que as agências governamentais tenham os recursos e a flexibilidade de que precisam", apontou Newsom, em seu comunicado. "Embora o risco para o público permaneça baixo, continuaremos a tomar todas as medidas necessárias para impedir a propagação deste vírus."
No seu artigo, Conor Meehan ressalta que os cientistas devem constantemente escanear o horizonte em busca de um próximo problema potencial. E certos grupos são mais propensos do que outros a causar surtos rápidos, o que inclui o vírus influenza.
Nesse aspecto, o subtipo H5N1 da gripe influenza A (IAV), que se expande nos EUA, merece um olhar mais cuidadoso. "Quando os casos de gripe começam a aumentar em animais como pássaros, há sempre a preocupação de que ela possa passar para humanos. De fato, a gripe aviária pode infectar humanos, com 61 casos nos EUA este ano, a maioria resultante de trabalhadores de fazenda entrando em contato com gado infectado e pessoas bebendo leite cru", pontua Meehan.
"Comparado com apenas dois casos nas Américas nos dois anos anteriores, esse é um aumento bem grande. Somando isso a uma taxa de mortalidade de 30% por infecções humanas, a gripe aviária está rapidamente subindo na lista de prioridades das autoridades de saúde pública", diz o pesquisador.
A uma mutação da transmissão entre humanos
Embora existam barreiras que impedem esta cepa do vírus se espalhar entre as pessoas com facilidade, já que não há registro de transmissão entre pessoas, um estudo publicado na revista Science no início de dezembro mostra que a versão da gripe aviária que infecta vacas nos EUA está a apenas uma mutação de distância de conseguir se disseminar de forma mais eficaz entre humanos.
"Ainda não sabemos se os vírus da gripe H5N1 evoluirão para se tornar uma doença humana", aponta virologista Ed Hutchinson, da Universidade de Glasgow, ao MedicalXPREss. Mas, ele ressalta que se uma pandemia de gripe aviária ocorresse, seria "notavelmente grave" porque não temos imunidade desenvolvida.
Meehan pontua que se essa cepa da gripe aviária se adaptar e começar a ser transmitida entre humanos, os governos devem agir rapidamente para controlar a disseminação.
"Mesmo sem a capacidade potencial de se espalhar entre humanos, a gripe aviária provavelmente afetará ainda mais a saúde animal em 2025. Isso não só tem grandes implicações no bem-estar animal, mas também o potencial de interromper o fornecimento de alimentos e ter efeitos econômicos também", acredita.
Com informações de The Conversation