O governador da Califórnia, nos Estados Unidos, Gavin Newsom, declarou estado de emergência em resposta à disseminação contínua da gripe aviária entre o gado leiteiro local. O estado da Costa Oeste se tornou o epicentro do surto nacional de gado e mais de 300 rebanhos leiteiros californianos testaram positivo somente nos últimos 30 dias.
"Esta proclamação é uma ação direcionada para garantir que as agências governamentais tenham os recursos e a flexibilidade de que precisam", disse Newsom, em seu comunicado. "Embora o risco para o público permaneça baixo, continuaremos a tomar todas as medidas necessárias para impedir a propagação deste vírus."
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Segundo a rádio pública NPR, a Califórnia é atualmente responsável por cerca de metade das infecções humanas conhecidas nos EUA.
Primeiro caso grave em humanos nos EUA
No mesmo dia em que houve a decretação de emergência na Califórnia, o primeiro caso grave da doença detectado em um ser humano no país foi registrado no estado da Lousiana.
Nesta quarta-feira (18), autoridades do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) compartilharam descobertas adicionais sobre a infecção em um morador do estado que foi hospitalizado após ser exposto a pássaros doentes e mortos em bandos de quintal de sua residência.
"Um caso esporádico de doença grave de gripe aviária H5N1 em uma pessoa não é inesperado; a infecção pelo vírus da gripe aviária A (H5N1) foi previamente associada a doenças humanas graves em outros países durante 2024 e anos anteriores, incluindo doenças resultando em morte. Nenhuma disseminação de pessoa para pessoa da gripe aviária H5 foi detectada", aponta relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. "Este caso não altera a avaliação geral do CDC sobre o risco imediato à saúde pública da gripe aviária H5N1, que permanece baixa."
O sequenciamento genético indica que o vírus responsável pela doença pertence a uma linhagem que circula em aves selvagens e aves domésticas, diferente do que está se espalhando no gado leiteiro e causando a maioria das infecções em trabalhadores agrícolas.
Até agora, 61 pessoas foram infectadas nos EUA, embora algumas pesquisas sugiram que a contagem oficial possa estar subestimada. As doenças relacionadas ao gado leiteiro têm causado, em sua maioria, sintomas leves em humanos. Ainda não foi registrado nos EUA nenhum caso de transmissão de humano para humano.
"Repetindo os erros da covid"
Um estudo conduzido pelo CDC testou trabalhadores em fazendas em Michigan e Colorado depois que a gripe aviária apareceu em rebanhos de gado locais. Aproximadamente 7% das pessoas testadas tinham evidências de uma infecção passada e cerca de metade não se lembrava de ter sintomas na época.
Os Estados Unidos estariam repetindo os "erros da covid", diz ao NPR a médica Deborah Birx, que ajudou a supervisionar a resposta à pandemia durante o primeiro governo do presidente eleito Donald Trump.
"O mais importante é rastrear onde ele está", diz Birx, agora integrante do Instituto George W. Bush, "E o que aprendemos nos últimos cinco anos? Bem, muitos vírus se espalham de forma assintomática."
Os cientistas temem que um processo conhecido como rearranjo, uma mistura genética de dois vírus, possa gerar uma nova versão da gripe aviária mais bem adaptada aos humanos. A perspectiva de isso acontecer em porcos, vistos como "vasos de mistura" particularmente perigosos, preocupa os pesquisadores do influenza.
"Achamos que cada vírus pandêmico passado que tivemos para a gripe humana foi um evento de rearranjo entre um vírus circulando em humanos e um vírus circulando em uma espécie diferente", diz a virologista da Universidade da Pensilvânia Louise Moncla à rádio pública estadunidense. "Traduzir isso em uma probabilidade de que estamos perto de uma pandemia ou que uma pandemia acontecerá agora — eu diria que é impossível."
Sinais de alerta
Em uma postagem no X, ex-Twitter, o médico, cientista e pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis alertou: "Sem que ninguém esteja prestando atenção, podemos estar testemunhando o começo de outra crise sanitária global".
A versão estadunidense do patógeno já mostra um elevado potencial de disseminação e começou a se espalhar entre os rebanhos de gado pela primeira vez no país no início do ano.
"Desde março de 2024, o surgimento do clado 2.3.4.4b do vírus da gripe aviária H5N1 altamente patogênico em mamíferos não carnívoros, com infecções de cabras e vacas leiteiras (...) em vários estados dos EUA, constitui uma mudança epidemiológica", escreveram 30 especialistas na edição de dezembro da The Lancet Infectious Diseases.
Ainda há várias barreiras que impedem que esta cepa do vírus se espalhe entre as pessoas com facilidade, mas um estudo publicado na revista Science no início de dezembro mostra que a versão da gripe aviária que infecta vacas nos EUA está a apenas uma mutação de distância de conseguir se disseminar de forma mais eficaz entre humanos.
"Ainda não sabemos se os vírus da gripe H5N1 evoluirão para se tornar uma doença humana", aponta virologista Ed Hutchinson, da Universidade de Glasgow, ao MedicalXPREss. Mas, ele ressalta que se uma pandemia de gripe aviária ocorresse, seria "notavelmente grave" em humanos porque não temos imunidade desenvolvida.
Em novembro, o sequenciamento genético de um adolescente canadense contaminado pela gripe aviária e com sintomas mais fortes da doença "sugeriu que o vírus havia começado a evoluir para explorar maneiras de se ligar mais efetivamente às células do corpo", pontua Hutchinson.
Com informações da NPR