ALERTA

Doença mortal e desconhecida já matou dezenas do Congo; o que se sabe até agora

Enfermidade tem sintomas semelhantes aos de uma gripe e atinge principalmente crianças com menos de cinco anos

Pesquisadores ainda não descobriram origem de doença que afeta a República Democrática do Congo
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Uma doença desconhecida que atingiu principalmente a região sudoeste da República Democrática do Congo (RDC) é responsável pela morte de 67 a 143 pessoas no período de duas semanas.

Segundo as autoridades de saúde, os primeiros casos foram registrados no final de outubro e os sintomas relatados são semelhantes aos da gripe, como febre, dor de cabeça, tosse e anemia.

Todas as mortes foram registradas entre 10 e 25 de novembro na zona de saúde de Panzi, na província de Kwango. Houve aproximadamente 380 casos, quase metade dos quais eram crianças menores de cinco anos de idade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira (6) que está enviando especialistas para dar suporte às autoridades de saúde na República Democrática do Congo para determinar a causa da doença ainda não diagnosticada. A equipe é composta por epidemiologistas, clínicos, técnicos de laboratório e especialistas em prevenção e controle de infecções e comunicação de risco.

“Nossa prioridade é fornecer suporte efetivo às famílias e comunidades afetadas. Todos os esforços estão em andamento para identificar a causa da doença, entender seus modos de transmissão e garantir uma resposta apropriada o mais rápido possível”, disse a médica Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para a África.

As dificuldades em identificar a doença

Os problemas de infraestrutura local na República Democrática do Congo podem dificultar as análises a respeito da doença, segundo o professor de Saúde Pública da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, Andrew Lee.

"Se não for um dos suspeitos habituais, a detecção de patógenos mais raros geralmente exige que amostras sejam enviadas para laboratórios mais especializados, que podem fazer testes especializados, como sequenciamento genético", aponta, em artigo publicado no The Conversation. "Isso pode significar que amostras precisam ser enviadas para laboratórios no exterior. No entanto, o compartilhamento internacional dessas amostras biológicas é altamente controverso devido a preocupações de que os benefícios de fazê-lo muitas vezes não são compartilhados de forma justa entre os países."

Outra prioridade para as autoridades de saúde locais, de acordo com Lee, é entender a extensão e a gravidade do surto, o que também é um desafio, já que nem todos os pacientes infectados serão detectados. "As clínicas podem ser poucas e distantes entre si, especialmente em áreas remotas, e muitas vezes não têm pessoal suficiente. A RDC tem menos de dois médicos por 10.000 habitantes (em comparação, o Reino Unido tem mais de 31 médicos por 10.000 habitantes)", observa.

O diretor-geral do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África, Jean Kaseya, alerta para a diferença entre o número de casos efetivos e os confirmados por conta do sistema de laboratórios do país. “Menos de 35% de todas as amostras estão chegando aos laboratórios nas 48 horas recomendadas. Isso significa que estamos enfrentando os [problemas] de qualidade das amostras, e esta é uma grande questão que precisamos resolver rapidamente”, pontua.

Vigilância global

Andrew Lee alerta para o fato de surtos de novas doenças infecciosas estarem ocorrendo regularmente ao longo dos anos. "Isso é parcialmente causado pelas mudanças climáticas, mudanças demográficas populacionais, urbanização e desmatamento, que permitem a 'transmissão' de infecções de animais para humanos", afirma.

Diante do cenário, o ideal era que surtos como o da RDC fossem tratados de forma local, mas também com a atenção de outras instâncias internacionais.

"Infelizmente, nosso radar global de doenças infecciosas está quebrado. A vigilância de doenças é fragmentada globalmente", diz Lee. "Sem uma melhor vigilância global de doenças, podemos não detectar a próxima pandemia até que seja tarde demais."

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