SAÚDE

Ministro do STJ diz que crianças autistas "passeiam na Floresta" para defender planos de saúde; veja

Jornalista e mãe de autista, Johanna Nublat, detonou declaração e expôs ignorância do ministro Antonio Saldanha, que ressaltou que "isso custa", em relação aos tratamentos às crianças

Antonio Saldanha, ministro do STJ, causou indignação com fala surreal sobre o autismo.Créditos: Reprodução / Youtube
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Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Antonio Saldanha causou indignação entre pais e profissionais ao dizer em evento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em São Paulo na sexta-feira (22) que crianças autistas são "problema" e que ficam "passeando na floresta" defendendo os planos de saúde sobre gastos com clínicas multidisciplinares.

“Para os pais, é uma tranquilidade saber que o seu filho, que tem um problema, vai ficar de 6 a 8 horas por dia em uma clínica especializada, passeando na floresta. Mas isso custa”, disse o juiz, causando revolta, no evento.

A declaração aconteceu durante o Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde. Convidado a participar do debate, Saldanha fez uma exposição sobre os temas que são judicializados, principalmente pelos planos de saúde que não querem arcar com custos, por exemplo, em tratamentos multidisciplinares, envolvendo diversos profissionais, como psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, entre outros.

Jornalista e mãe de uma criança autista, Johanna Nublat expôs a indignação com o ministro em texto em sua coluna, Vidas Atípicas, na Folha de S.Paulo, neste sábado (23).

"Meu filho de 6 anos é autista. Ele tem um problema de cognição, o que é uma tristeza para nós familiares, mas o tratamento dele me traz tranquilidade, porque ele fica de seis a oito horas por dia numa clínica com gente especializada passeando na floresta, por mais que isso custe muito ao plano de saúde", iniciou Johanna, emendando que "esse conjunto de frases absurdas", ditas pelo ministro, "é uma transcrição livre adaptada a minha realidade".

A jornalista ainda expôs a ignorância de Saldanha ao falar sobre o tema - o que se torna grave por ter sido em um Fórum nacional que servirá de base para outros magistrados.

"Agora tem um tratamento natural, como é o nome mesmo, esqueci? Tratamento em ambiente natural. Não sei o que é isso, faz parte da ABA, acho que leva a pessoa para a floresta, sei lá, abraça a árvore, deve ser esse negócio", ironizou Saldanha em defesa dos planos de saúde.

"Ao falar sobre a judicialização dos planos de saúde, o ministro demonstrou desconhecimento básico sobre a principal terapia usada em casos de autismo (e recomendada pelo CDC americano), a ABA, e sua vertente mais moderna, conhecida como ABA naturalística, por ser aplicada em contextos cotidianos, como a casa da criança, para ajudar na generalização do repertório aprendido", explicou a jornalista.

A Johanna ainda explicou outros conceitos básicos ao ministro do STJ, que afirmou que o autismo é "um problema de cognição". " Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento", escreveu.

"Meu filho não passeia na floresta de Brasília; ele treina habilidades em contexto natural (em casa e no parquinho) para viver bem em sociedade. Para mim, não é uma tranquilidade deixar ele todos os dias na terapia; eu preferia que ele jogasse futebol e estudasse francês, mas ele (ainda) mal fala o português", disparou.

Ao final, a jornalista ainda detonou o ministro que falou sobre "essa tristeza que é a gente ter um parente com problemas cognitivos de desenvolvimento".

"Sobre tristeza… Tristeza para os familiares é ter que brigar com os planos de saúde ou o sistema público por acesso a terapias adequadas, baseadas em evidência, de qualidade, multidisciplinares — sim, ministro, treinar habilidades sociais é central para o autismo — e na carga adequada. Também é uma tristeza ouvir opiniões desinformadas — e até jocosas — de autoridades que deveriam jogar a favor dos mais vulneráveis, e não contra", finalizou Johanna.

Assista às falas do ministros no evento do CNJ

 

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