Na última semana, a luta pelo fim da escala 6x1 ganhou forte repercussão nas redes sociais e destacou o debate sobre a saúde mental do trabalhador brasileiro. Esse movimento foi impulsionado pela pressão da classe trabalhadora para buscar apoio à PEC apresentada no Congresso Nacional pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que pede a redução da jornada de trabalho.
Entre as principais justificativas da proposta está o impacto das extensas horas de trabalho sobre a saúde mental do trabalhador, que tem apenas um dia de descanso na escala 6x1. A grande reivindicação do movimento Vida Além do Trabalho, que fundou a luta pelo fim da escala, é que esse modelo de trabalho impede que o trabalhador se dedique a outras áreas da sua vida pessoal, como a própria saúde, lazer, cultura e tempo com seus familiares.
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O próprio fundador do movimento, Rick Azevedo, conta que desenvolveu depressão e ansiedade devido a mais de dez anos com a pressão da escala 6x1, em entrevista à Fórum, em fevereiro deste ano. Ele não é o único a relatar esgotamento mental devido às formas de trabalho a que é submetido: estudos recentes mostram que os brasileiros sofrem cada vez mais de transtornos mentais causados pelo trabalho exaustivo.
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Apesar do foco do movimento ser pelo fim da escala 6x1, o debate em torno desta luta destaca outros fatores que colaboram para o desenvolvimento de transtornos mentais, como falta de direitos trabalhistas, falta de suporte, assédio no ambiente de trabalho, baixos salários e outros.
Como está a saúde mental do trabalhador brasileiro?
Um estudo publicado em 2023 pela Vittude, denominado “Um olhar aprofundado sobre a saúde mental nas organizações brasileiras”, revelou que 33% dos trabalhadores avaliados apresentaram algum tipo de transtorno mental em nível severo ou extremamente severo.
Naquele mesmo ano, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANMT) divulgou um estudo que apontou que aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout, transtorno causado pelo esgotamento profissional. Atualmente, o Brasil ocupa o 2° lugar no ranking de países com mais casos diagnosticados de burnout.
Ainda em 2023, o Ministério da Saúde promoveu uma reunião do Conselho Nacional de Saúde para debater os transtornos mentais do trabalhador brasileiro. No encontro, a professora do Departamento de Saúde da Universidade Federal de Feira de Santana (UFES) afirmou que o Brasil estava vivendo uma epidemia causada pelo excesso de trabalho.
Já neste ano, uma outra pesquisa, feita pelo Centro de Análise da Sociedade Brasileira (Casb), mostrou que 40% dos trabalhadores se sentem sob riscos psicológicos devido ao trabalho. A pesquisa afirma que "a classe trabalhadora se vê em uma situação de insegurança financeira e precarização, com preocupações crescentes sobre sua saúde e renda. É aí que emerge a demanda por proteção social e direitos
O que propõe a PEC pelo fim da escala 6x1
Com base nessa realidade, a PEC que busca apoio para começar a tramitar no Congresso Nacional prevê o fim da escala 6x1. De acordo com o texto, a jornada de trabalho seria reduzida para 36 horas semanais, ao invés das atuais 44 horas. Na justificativa, a deputada Erika Hilton destaca que essa mudança busca atingir todos os trabalhadores, pois "todos necessitam ter mais tempo para a família, para se qualificar diante da crescente demanda patronal por maior qualificação, para ter uma vida melhor, com menos problemas de saúde e acidentes de trabalho - e mais dignidade".
"Em razão desses fatores, deve-se reavaliar as práticas de trabalho que afetam a saúde e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, especialmente a escala de trabalho 6x1 que impede até mesmo que os pais consigam ver seus filhos no dia-a-dia. Com a adoção da jornada de 4 dias permitirá tempo aos empregados para o acesso à saúde e ao lazer, garantindo menos estresse e fadiga dos empregados, em consequência, mais eficiência e agilidade nas atividades laborais", diz um trecho da proposta.
Atualmente, a PEC está com 134 assinaturas, e necessita de 171 para começar a ser analisada pelo Congresso Nacional.
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