SAÚDE MENTAL

Substância encontrada em cogumelos mágicos pode ser eficaz contra a depressão; entenda

Um composto presente em cogumelos alucinógenos pode ser um caminho promissor para o tratamento de transtorno depressivo, afirmam cientistas; mas existem empecilhos à comercialização

Cogumelos (imagem ilustrativa).Créditos: Pixabay
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A psilocibina, composto presente nos "cogumelos mágicos" — as mais de 200 espécies de cogumelos psicodélicos encontradas na natureza —, é uma substância análoga à serotonina e tem efeitos diversos no organismo de quem a ingere. 

Estados alterados de consciência, sinestesias (fenômenos de percepção alterada e estímulo cognitivo involuntário) e aumento da atividade somática do corpo fazem parte de uma série de consequências provocadas pelo uso dessa substância.

Por ser análoga à serotonina, no entanto, a psilocibina tem um outro efeito importante: aquele encontrado nos antidepressivos como escitalopram, lexapro ou cipralex. 

Ela é um inibidor seletivo, o que quer dizer que pode ter efeitos positivos no tratamento de doenças neuropsiquiátricas como a depressão, caracterizada pelo desequilíbrio químico de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, essenciais para a regulação do humor. 

De acordo com a CNN, em um estudo clínico de seis semanas que comparou tratamentos medicamentosos baseados em antidepressivos existentes no mercado, como os mencionados acima, e o tratamento com a psilocibina, foi essa última a responsável pelos melhores resultados clínicos. 

"Há uma necessidade crescente por soluções médicas mais eficientes para a depressão", diz o veículo. Quase nove milhões de pessoas sofrem desse transtorno nos Estados Unidos, e pelo menos 2.8 milhões são resistentes a tratamentos com antidepressivos convencionais.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a América Latina é a região do mundo com maiores taxas de depressão entre a população. Pelo menos 5,8% dos brasileiros, isto é, 11,7 milhões de pessoas sofrem da doença. A níveis continentais, o país só perde para os EUA.

Além da relativa ineficácia avistada em fórmulas de medicamentos comumente utilizados no tratamento da depressão, há também os efeitos colaterais.

De acordo com Charles Raison, professor de psiquiatria da Universidade de Wisconsin, um terço dos pacientes não responde aos antidepressivos, e, em outros, os benefícios tendem a desaparecer ao longo do tempo. 

Já os efeitos colaterais incluem náuseas e dores de cabeça, atividade sexual e libido reduzidas, e dificuldades para atingir o organismo — que podem durar meses ou até anos. A disfunção sexual também pode ser comum em alguns casos.

A psilocibina tem respondido bem em pequenos estudos clínicos que levam em conta males variados. Versões sintéticas dessa substância já mostraram benefícios, por exemplo, para reduzir crises de enxaqueca e ansiedade, anorexia, transtornos compulsivos e abusos de substância. 

Mas os maiores sucessos da droga foram avistados nos estudos para o tratamento da depressão

Três versões da psilocibina sintética receberam a designação de "terapia inovadora" da Food and Drug Administration dos EUA — em 2018, para depressão resistente ao tratamento, que é diagnosticada quando as pessoas tentaram e falharam com vários antidepressivos; e, em 2019 e 2024, para casos de depressão clínica, diagnosticada quando uma pessoa está gravemente deprimida na maior parte do tempo, de acordo com a CNN.

Em 2021, o estudo conduzido entre a psilocibina e o escitalopram para o tratamento de depressão moderada e severa considerou 59 pacientes e administrou doses do composto com uma pausa de três semanas entre cada dosagem (de 1 miligrama) para um dos grupos. O escitalopram foi administrado ao longo de seis semanas para o outro grupo, e ambos receberam 20 horas de psicoterapia. 

Após seis semanas, apesar de não ter havido diferença significativa entre a psilocibina e o escitalopram em termos de pontuação do transtorno depressivo, a atividade cerebral de quem tomou a psilocibina demonstrou maior flexibilidade para alternar entre diferentes estados.

"A psilocibina superou o escitalopram em várias medidas de bem-estar — como significado na vida, trabalho e funcionamento social", disse o pesquisador Tommaso Barba, do Imperial College de Londres.

Mas substâncias alucinógenas ainda precisam passar por um longo processo de testagem e manipulação até constituírem, de fato, uma opção segura para tratamentos longos.

Uma das fases de testagem de medicamentos inclui a administração de uma versão placebo, o que se mostrou um desafio no caso da psilocibina, que é facilmente identificada entre os pacientes. 

Também há a questão dos custos de um processo assim: quem vai financiar os estudos e a pesquisa em torno desse composto? 

As grandes farmacêuticas não têm interesse em abandonar os antidepressivos tradicionais — pelo menos por enquanto.