Nesta semana, relatos de médicos que compartilham experiências clínicas no YouTube chamaram atenção ao alertar que mulheres estão recorrendo intencionalmente a pílulas contendo ovos de tênia como método de emagrecimento. A repercussão surgiu após Bernard Hsu, um especialista em câncer nos EUA, atender uma jovem de 21 anos, identificada como “TE”, que comprou uma caixa de pílulas online.
Ao chegar ao consultório com cólicas estomacais, dores de cabeça, inchaço abdominal e amnésia, a paciente foi diagnosticada com Taenia solium — ovos frequentemente encontrados na carne de porco. Quando esses ovos entram na corrente sanguínea, podem se espalhar para tecidos como músculos e cérebro, resultando em uma condição chamada cisticercose. Segundo o médico, a paciente relatou sentir o parasita se mover em diferentes partes do corpo.
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Vendidos sob a falsa promessa de emagrecimento, os anúncios afirmam que a tênia — que se instala no intestino humano, geralmente após o consumo de carne mal cozida — absorve parte dos nutrientes do hospedeiro, resultando em perda de peso. Esses anúncios são comuns na chamada 'dark web', onde o monitoramento de práticas que prometem emagrecimento rápido é mais difícil.
Graves riscos à saúde
A ingestão desses ovos de tênia pode levar a complicações severas, como convulsões e infecções cerebrais, permitindo que os ovos entrem na corrente sanguínea e alcancem o cérebro, o que pode ser fatal.
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Embora considerada uma condição rara no Brasil, com menos de 150 mil casos anuais, a cisticercose é causada pela presença de cistos da larva da Taenia solium nos tecidos corporais. Esses cistos funcionam como uma proteção para os protozoários, permitindo sua reprodução quando encontram condições apropriadas.
Os sintomas da cisticercose variam conforme a localização do parasita. Quando alojado nos músculos, pode causar inchaço, inflamação e dificuldades de movimento. Especialistas indicam que essa manifestação é mais comum em indivíduos imunossuprimidos.
“As larvas (cisticercos) podem se desenvolver nos músculos, na pele, nos olhos e no sistema nervoso central. Quando os cistos se desenvolvem no cérebro, a condição é chamada neurocisticercose (NCC). Os sintomas incluem dor de cabeça intensa, cegueira, convulsões e ataques epilépticos, podendo ser fatais”, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Quando a larva atinge o cérebro, resultando em neurocisticercose, o paciente pode sofrer de dores de cabeça persistentes, convulsões e desorientação mental.
A cisticercose ocular pode causar visão turva, inchaço, deslocamento da retina e até cegueira. Os sintomas podem surgir meses ou até anos após a infecção, geralmente quando os cistos começam a degenerar.
Neste estágio, o cérebro ou tecidos próximos ao cisto podem inchar, e a pressão resultante frequentemente causa os sintomas da infecção. Às vezes, a pressão do cisto em um espaço restrito também pode ser a causa dos sintomas, segundo os CDC.
Relatos
Márcia Barbosa da Cunha, de 45 anos, foi diagnosticada com neurocisticercose em julho de 2023, após apresentar lesões cerebrais e sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Inicialmente, os sintomas incluíam formigamento no pé, dificuldade na fala e dores de cabeça. Ao buscar atendimento médico, exames revelaram várias lesões no sistema nervoso, indicando um processo infeccioso. O diagnóstico de infestação por cistos da tênia foi confirmado somente após o AVC.
Márcia descreve o momento crítico: "Senti um formigamento intenso no pé esquerdo, como se estivesse levando uma descarga elétrica. Minha respiração ficou ofegante e percebi que meu lado esquerdo estava paralisando, então me arrastei até a porta para pedir ajuda." O porteiro a viu e chamou socorro.
No hospital, os exames mostraram uma lesão vascular no lobo frontal direito. Após 21 dias de tratamento, Márcia ainda enfrenta sequelas da doença. "Ainda sinto formigamento no pé esquerdo e precisei de fonoaudiologia para melhorar minha fala. Tive que abrir mão de várias oportunidades de trabalho e me afastei de amigos, ficando emocionalmente abalada com a gravidade da situação.", relata a produtora em entrevista ao jornal O Globo.