RISCO

Ozempic: descoberto novo efeito colateral do remédio que virou febre para emagrecer

Estudo publicado mostra condição rara associada ao uso da semaglutida, princípio ativo do medicamento

Ozempic tem se tornado cada vez mais popular na luta pela perda de pesoCréditos: Commons
Escrito en SAÚDE el

Um estudo publicado nesta quarta-feira (3) na JAMA Ophthalmology mostrou que os medicamentos com base em semaglutida, como o Ozempic, utilizados para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, parecem estar associados a um maior risco de sofrer uma forma rara de perda de visão.

O estudo coordenado por pesquisadores de Harvard mostrou que a semaglutida pode estar associada diretamente com a neuropatia ótica isquêmica.

"Os achados sugerem um risco potencial de neuropatia ótica isquêmica anterior não arterítica associado à prescrição de semaglutida, mas são necessários futuros estudos para avaliar a causalidade", concluiu a pesquisa.

Foram observados os dados de mais de 16 mil pacientes e a semaglutida foi identificada com um fator de risco para a doença tanto para quem faz o uso para diabetes como o uso para perda de peso.

As pessoas que utilizavam Ozempic tinham uma probabilidade mais de sete vezes maior de serem diagnosticadas com essa forma de perda de visão em relação a quem tomava outros medicamentos para obesidade.

Os pacientes que usavam o medicamento apenas para tratar diabetes tinham uma chance mais de quatro vezes maior de desenvolver essa rara condição em comparação com aqueles que seguiam outros tipos de tratamentos.

Desenvolvido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, o Ozempic foi lançado ainda em 2017, mas ganhou fama no final de 2022 por seus efeitos de emagrecimento após ser recomendada por 'influenciadores' e celebridades de todo o mundo.

O medicamento também foi investigado em várias ocasiões por causar problemas de saúde ou efeitos colaterais, entre eles alopecia, pensamentos suicidas, riscos de aspiração e problemas estomacais.

Entre os principais efeitos colaterais estão náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal e pancreatite. Além disso, pode haver risco de problemas renais e reações alérgicas. O acompanhamento médico é essencial para garantir a segurança do tratamento.

Posicionamento da Novo Nordisk

Em nota enviada à Fórum, a Novo Nordisk se posicionou sobre o estudo. Leia na íntegra:

A segurança dos pacientes é prioridade máxima para a Novo Nordisk, que leva muito a sério todos os relatos de eventos adversos decorrentes do uso de seus medicamentos. A neuropatia ótica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA) não é uma reação adversa ao medicamento para as formulações comercializadas de semaglutida (Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus®) de acordo com as respectivas bulas aprovadas.

Existem limitações metodológicas fundamentais do estudo que precisam ser consideradas na interpretação dos resultados: • Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, de centro único, com alto risco de viés de seleção. Este estudo não foi desenvolvido para avaliar qualquer potencial relação entre NOIA-NA e a exposição à semaglutida.

• Na análise, não foram considerados fatores de confusão importantes como o tabagismo, a duração do diabetes e a morfologia do disco óptico.

• A gravidade dos fatores de confusão não pôde ser devidamente avaliada devido a um pequeno número de pessoas incluídas com diabetes tipo 2 ou obesidade/sobrepeso expostas à semaglutida (n=169 e n=254, respetivamente) e a poucos eventos NOIA-NA (n=17 e n= 20, respetivamente). Isto também é refletido nos amplos intervalos de confiança de 95%, que demonstram uma menor precisão estatística.

• Não existe um código CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) para NOIA-NA, o que pode levar a desafios na codificação exata e identificação de casos relacionados com esta doença. É válido destacar que 40% dos casos codificados como neuropatia ótica isquêmica não eram realmente NOIA-NA, mas, sim, neuropatia ótica isquêmica de arterite de células gigantes.

• As informações fornecidas na publicação limitam avaliar se as pessoas estavam expostas à semaglutida quando o evento ocorreu.

A semaglutida também foi analisada em grandes estudos de evidências do mundo real e em programas de desenvolvimento clínico robustos (SUSTAIN, PIONEER, STEP, SELECT, OASIS) com uma exposição cumulativa, incluindo o uso pós-comercialização de mais de 22 milhões de pacientes-ano. A totalidade dos dados garante o perfil de segurança da semaglutida. Atualmente, a semaglutida está sendo examinada no estudo FOCUS, conduzido pela Novo Nordisk para avaliar os efeitos de longo prazo da semaglutida 1,0 mg na retinopatia diabética em pacientes com diabetes tipo 2, com data de conclusão prevista para o segundo semestre de 2027