Um estudo publicado na revista The Lancet sugere que mais da metade dos casos de doenças neurodegenerativas está concentrada no Sul Global.
Isto é, 60% das pessoas afetadas por doenças de natureza neurodegenerativa vêm de países de baixas e médias rendas, de acordo com pesquisadores de oito universidades ao redor do mundo.
Te podría interesar
No entanto, as pesquisas de referência ainda são desenvolvidas majoritariamente no Norte Global, usando dados coletados entre as populações de países de mais alta renda, com características muito distintas.
O estudo analisou a presença de biomarcadores relacionados ao surgimento de doenças como Alzheimer e demência vascular para a América Latina, a África e o sudeste asiático. Foram mais de 140 estudos genéticos, dos quais 90 estiveram focados em biomarcadores do Alzheimer.
Te podría interesar
"A rica mistura de ancestrais indígenas, africanos e europeus na região latino-americana influenciou mutações genéticas e fatores de riscos para doenças", diz o estudo. Na Colômbia, o biomarcador PSEN1, relacionado de forma substancial ao desenvolvimento de Alzheimer, foi encontrado como mutação genética familiar para vários níveis da doença.
Na África, por sua vez, foram encontrados biomarcadores de risco para a doença de Parkinson (além de outros males relacionados à degeneração cognitiva), como o genótipo APOE. A razão para essa associação ainda não é clara.
No sudeste asiático, também foram encontradas mutações do genótipo APOE, relacionadas ao surgimento de Alzheimer e à demência vascular.
Em todo o Sul Global, o estudo percebeu grandes variações entre os biomarcadores das doenças, o que indica a necessidade de métodos mais harmônicos e de classificações mais específicas, que incluam subtipos para cada marcador.
Os testes de doenças neuropsicológicas são um desafio no Sul Global por causa da escassez de métodos padronizados e adaptados, dizem os pesquisadores, que também enfatizam as diferenças socioculturais e a grande heterogeneidade das populações.
Por isso, os vieses das pesquisas mainstream, concentradas no Norte Global, precisariam ser adaptados a visões mais inclusivas e considerar diferentes heranças genéticas.
"Fatores de risco e fenótipos cerebrais associados com populações estereotípicas do Norte Global não se aplicam ao Sul", diz a pesquisa, bem como "a influência de alguns biomarcadores" dessa região.
E, enquanto alguns problemas aumentaram no Norte Global por razões naturais, seu aumento em países de baixa renda se deveu a condições políticas, ambientais e sociais, também determinantes de saúde.
Há interações mais complexas entre os biomarcadores (como fatores de inflamações, problemas relacionados a estresse e imunidade) que as pesquisas falham em considerar, de acordo com o estudo. E isso afeta principalmente os diagnósticos para o Sul.
"Se abordada com uma mentalidade inclusiva e ética, a pesquisa de biomarcadores no Sul Global pode abrir caminho para descobertas inovadoras", afirma o estudo. “A integração com a diversidade inerente a essas regiões vai redefinir nossas abordagens nas pesquisas sobre saúde cerebral, demência e biomarcadores".