APURAÇÃO

Infecção por HIV: Ministério da Saúde determina auditoria em sistema de transplantes do RJ

Pasta também determinou interdição do laboratório responsável pelo erro; até o momento, seis pacientes foram infectados

Ministério da Saúde determina auditoria em sistema de transplantes do RJ.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O Ministério da Saúde determinou, nesta sexta-feira (11), uma auditoria nos sistemas de transplantes no Rio de Janeiro após seis pacientes transplantados serem infectados pelo vírus HIV, que provoca a Aids. O procedimento será realizado pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus).

De acordo com a pasta, o erro aconteceu durante a testagem realizada antes da realização dos transplantes. O caso chocou não só a população, mas também equipes médicas, uma vez que os procedimentos de testes são rigorosos. 

O laboratório responsável pelo erro, PCS Saleme/RJ, é privado e foi contratado pela Fundação Saúde, sob responsabilidade da Secretaria de Estado do Rio de Janeiro. Ele foi interditado pelo Ministério da Saúde. 

A pasta também informou que "a situação está sendo tratada com extrema seriedade, visando cuidar dos pacientes e suas famílias e preservar a confiança da população nesse serviço essencial". Até o momento, dois doadores e seis pacientes foram detectados com HIV.  

Além disso, o ministério também determinou que a testagem de todos os doadores de órgãos volte a ser feita pelo Hemorio, e que todo o material do laboratório passasse por nova fase de teste para identificação de possíveis novos resultados positivos. 

Entenda o caso

De acordo com as primeiras informações divulgadas pelas autoridades de Saúde fluminenses, um paciente que recebeu um coração no fim de janeiro testou positivo para HIV meses depois, mas ele não tinha o vírus anteriormente. Os primeiros sintomas dele foram de caráter neurológico. Com a suspeita, a SES-RJ foi testar as amostras recolhidas e armazenadas do doador, além de rastrear outras pessoas que receberam órgãos com a mesma origem. Descobriu-se que, de fato, o doador estava contaminado e que dois pacientes que receberam um rim cada da mesma pessoa também estavam com HIV. Eles igualmente apresentaram como primeiros sintomas alterações neurológicas.

O homem que recebeu o fígado do doador com HIV morreu logo após o procedimento e as autoridades informaram que o falecimento não teve relação com o fato. O receptor das córneas não foi infectado, uma vez que por ser um tecido pouco vascularizado, a possibilidade de contaminação é menor.

Os exames de testagem com resultados errados foram feitos em 23 de janeiro, pelo laboratório privado PCS Lab Saleme, que tem sede em Nova Iguaçu. A empresa foi interditada pelas autoridades sanitárias do Rio e até o momento não se pronunciou em relação ao caso.

Não parou por aí

Já investigando o episódio absurdo, a SES-RJ descobriu que um outro paciente, transplantado mais recentemente, também apresentou problemas neurológicos no dia 3 deste mês de outubro. Ao ser testado, o receptor deu positivo para o HIV. Como ele não tinha previamente o vírus, os especialistas desconfiaram que mais órgãos infectados, de outro paciente, pudessem ter sido utilizados. E foi o que ocorreu. A nova testagem descobriu que mais um exame com resultado falso havia sido emitido, liberando o material para transplante.

Como primeira medida para conter o grave problema, a SES-RJ anunciou que todos os processos de testagem foram transferidos do PCS Lab Saleme para o Hemorio, que é público. Agora, uma nova testagem está sendo realizada em materiais biológicos armazenados de 286 diferentes doadores, para rastrear alguma outra possível contaminação.

Em nota oficial, a SES se pronunciou em relação ao caso e lembrou que os procedimentos de transplante no Brasil são sérios e seguros, permitindo que milhares de pessoas tenham as vidas salvas por esse tipo de cirurgia de alta complexidade.

Leia a íntegra do comunicado:

“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.

O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.

A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.

Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.

Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.