Órgãos contaminados pelo vírus HIV, que provoca a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida), contaminaram pelo menos seis pacientes transplantados no Rio de Janeiro. Os procedimentos foram realizados em pessoas que aguardavam na fila de transplantes gerenciada pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio (SES-RJ). O fato, que se tornou público nesta sexta-feira (11), é considerado absurdo, uma vez que procedimentos de testagem rigorosos são feitos em materiais biológicos do tipo e não há registro de ocorrências assim no Brasil.
De acordo com as primeiras informações divulgadas pelas autoridades de Saúde fluminenses. Um paciente que recebeu um coração no fim de janeiro testou positivo para HIV meses depois, mas ele não tinha o vírus anteriormente. Os primeiros sintomas dele foram de caráter neurológico. Com a suspeita, a SES-RJ foi testar as amostras recolhidas e armazenadas do doador, além de rastrear outras pessoas que receberam órgãos com a mesma origem. Descobriu-se que, de fato, o doador estava contaminado e que dois pacientes que receberam um rim cada da mesma pessoa também estavam com HIV. Eles igualmente apresentaram como primeiros sintomas alterações neurológicas.
O homem que recebeu o fígado do doador com HIV morreu logo após o procedimento e as autoridades informaram que o falecimento não teve relação com o fato. O receptor das córneas não foi infectado, uma vez que por ser um tecido pouco vascularizado, a possibilidade de contaminação é menor.
Os exames de testagem com resultados errados foram feitos em 23 de janeiro, pelo laboratório privado PCS Lab Saleme, que tem sede em Nova Iguaçu. A empresa foi interditada pelas autoridades sanitárias do Rio e até o momento não se pronunciou em relação ao caso.
Não parou por aí
Já investigando o episódio absurdo, a SES-RJ descobriu que um outro paciente, transplantado mais recentemente, também apresentou problemas neurológicos no dia 3 deste mês de outubro. Ao ser testado, o receptor deu positivo para o HIV. Como ele não tinha previamente o vírus, os especialistas desconfiaram que mais órgãos infectados, de outro paciente, pudessem ter sido utilizados. E foi o que ocorreu. A nova testagem descobriu que mais um exame com resultado falso havia sido emitido, liberando o material para transplante.
Como primeira medida para conter o grave problema, a SES-RJ anunciou que todos os processos de testagem foram transferidos do PCS Lab Saleme para o Hemorio, que é público. Agora, uma nova testagem está sendo realizada em materiais biológicos armazenados de 286 diferentes doadores, para rastrear alguma outra possível contaminação.
Em nota oficial, a SES se pronunciou em relação ao caso e lembrou que os procedimentos de transplante no Brasil são sérios e seguros, permitindo que milhares de pessoas tenham as vidas salvas por esse tipo de cirurgia de alta complexidade.
Leia a íntegra do comunicado:
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.
O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.
Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.