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Covid ainda causa excesso de mortes no Brasil, mesmo após mais de três anos

Embora em menor intensidade, vírus ainda é o que causa maior mortalidade em relação a causas naturais, apontam dados

Pandemia da covid-19 já tirou a vida de mais de 700 mil pessoas no Brasil.Créditos: CFM Conselho Federal de Medicina/Wikimedia Commons
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Embora o número de mortes em excesso tenha reduzido em comparação com os primeiros anos da pandemia do coronavírus, ele ainda está acima do que seria esperado para a mortalidade no país. É o que mostram informações da Folha de São Paulo

Segundo o artigo, o excesso de mortes no Brasil ainda está acima do esperado, mesmo três anos após o início da pandemia de Covid-19. Definidas como o número de óbitos registrados no país, as mortes em excesso excedem o que seria esperado para aquele ano, com base no padrão observado em outros anos. Esse padrão foi modificado pela Covid-19, que já tirou a vida de mais de 700 mil pessoas no Brasil.

Até o mês de março deste ano, para o qual há informações disponíveis mais atualizadas, a taxa de mortalidade no país esteve um pouco acima do esperado. Durante esse período, eram esperadas 262,8 mil mortes no país. No entanto, houve aproximadamente 48 mil mortes a mais do que o esperado, o que representa um aumento de 18%. Em abril de 2021, no auge da pandemia, o valor chegou a 80% na região Norte.

Os dados mostram que, embora a intensidade tenha diminuído, a Covid-19 ainda é uma doença que provoca, direta ou indiretamente, um excesso de mortes no Brasil. Segundo a epidemiologista e consultora sênior da Vital Strategies, Fátima Marinho, o registro de mortes em excesso durante a pandemia foi fundamental para compreender a verdadeira magnitude dos óbitos causados pela Covid.

Ela esclarece que "as principais causas de morte no país, como câncer e doença cardiovascular, tiveram uma queda na pandemia, então o excesso foi realmente causado por Covid, que foi a novidade em termos de doença". Durante a pandemia, houve um aumento no número de mortes causadas por outras condições de saúde, como diabetes. 

Ainda supera expectativas

Essa condição pode ser agravada pela Covid-19 e também pode piorar o quadro da doença, levando à fatalidade. No entanto, desde janeiro de 2023, houve uma queda no excesso de mortalidade, apesar de ainda estar levemente acima do esperado.

Fátima reforça que "em conjunto, é um excesso muito grande de mortalidade que este ano começou com um pico em janeiro, e desde então vem caindo". De acordo com ela, ainda não há os dados do período do inverno, “mas é esperado agora que tenham mais quadros respiratórios por outros vírus, que ficaram em baixa na pandemia e agora voltaram a circular", diz.

Em colaboração com a organização de saúde pública Vital Strategies e a Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), o painel de excesso de mortalidade é feito pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). Vale lembrar que, no decorrer da emergência sanitária da Covid-19, muitos dados do painel fundamental para entender, em tempo real, o verdadeiro impacto da doença nas mortes no país, tiveram um atraso no registro.

Nas palavras de Renato Teixeira, estatístico e consultor técnico em ciência de dados da Vital Strategies, "o painel foi crucial para avaliar o impacto da pandemia na mortalidade independentemente da causa de morte. Em conjunto, o Conass tinha também um painel de casos e óbitos, que reunia as informações obtidas com as Secretarias de Saúde, ressaltando a importância do uso dos dados na pandemia".

Como foi realizado o levantamento

O cálculo do excesso de mortes realizado pelos pesquisadores foi feito por meio da coleta dos atestados de óbito registrados em cartórios em todo o país, por causas naturais, eliminando causas externas como homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. Na sequência, esses números foram comparados com a série histórica de óbitos entre os anos de 2015 e 2019, obtida pelo portal SIM-MS (Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde).

Para ser classificado como excesso de mortalidade, suponha que, por ano, o Brasil registre cerca de 1 milhão de mortes por todas as causas naturais, incluindo câncer, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e outras condições de saúde. Em 2020, no primeiro ano da pandemia, foram registradas 1,24 milhão de mortes, um aumento de 24%. Esse aumento representa o número de mortes acima do esperado.

O excesso de mortalidade calculado foi de 24% em 2020 e 2022. No entanto, em 2021, quando foi registrado o maior número de mortes por Covid-19, o excesso foi em torno de 46%, sendo ao todo 424.133 óbitos registrados.

De acordo com o assessor técnico do Conass, Nereu Henrique Mansano, é importante observar a quantidade atual de 150 óbitos por semana no país, isto é 600 por mês. Ele avalia que esse número é visto apenas em momentos de surto de gripe.

O assessor técnico do Conass ressalta a importância de ainda se manter atento a essas informações e indica manter medidas preventivas. “Esse ainda é um número considerável de mortes e pode refletir complicações decorrentes de outras infecções. É importante não baixar a guarda”.

Questionamentos

Ao mesmo tempo, a metodologia utilizada para mensurar essas informações também vem sendo criticada por outros especialistas. "A impressão é que de fato estamos em queda, mas os atestados ainda têm inconsistência", disse Paulo Lotufo, epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP.

O epidemiologista opta por utilizar os dados do portal PRO-AIM (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade) para calcular o excesso de mortalidade na cidade de São Paulo, com dados atualizados até julho de 2023. “Conseguimos reduzir as mortes em excesso em 2% em 2023, mas ainda assim mantemos um patamar acima em relação à média de 2015 a 2019”, afirma.

Por outro lado, Márcia Castro, demógrafa e professora da Universidade Harvard e colunista da Folha, questiona se esse excedente não é, na verdade, um dado ainda influenciado pela pandemia. “Com a queda drástica da mortalidade por Covid devido à vacinação, não sabemos se a mortalidade por outras causas retornará ao padrão observado até 2019 ou se as mudanças - tanto aumento quanto declínio, dependendo da causa de morte - ainda persistirão por algum tempo. Além disso, ainda temos pouca compreensão das consequências a longo prazo da Covid longa na mortalidade”, explica.

Apesar do cenário atual ser mais favorável, os especialistas expressam preocupação com a possibilidade de novas infecções e casos graves de hospitalização devido à baixa cobertura vacinal, especialmente entre as crianças. Um levantamento da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com dados até o último dia 9 de agosto revela que apenas 11,4% das crianças de até cinco anos foram adequadamente imunizadas contra a Covid-19.

Com informações de Folha de são Paulo