Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveram um novo método para detectar a hepatite D, também conhecida como hepatite Delta. O novo teste permite identificar, além dos anticorpos como no exame tradicional, a quantidade de carga viral presente no organismo do paciente. A novidade foi criada para fins de pesquisa mas a expectativa é que possa ser usada no Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo foi desenvolvido em conjunto por três instituições: a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), o Centro de Infectologia Charles Mérieux e a Universidade Federal do Acre (UFAC), todas localizadas no Acre, e envolveu 16 pesquisadores.
Te podría interesar
Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em http://benfeitoria.com/apoieAto18 e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.
O resultado dessa pesquisa, publicado semana passada, pode ser consultado em um artigo científico publicado na revista Scientific Reports da Nature, de referência internacional nas áreas das ciências naturais, psicologia, medicina e engenharia.
Te podría interesar
Principais mudanças do novo método
De acordo com Deusilene Dallacqua, pesquisadora da Fiocruz Rondônia e coordenadora do estudo, o método molecular oferece informações mais detalhadas. Assim como o teste usado atualmente, ele é feito por amostra de sangue, mas suas principais diferenças estão na capacidade de detectar o próprio vírus, confirmando que a pessoa está infectada naquele momento exato ao quantificar a carga viral.
A ideia é oferecer à equipe médica informações sobre a evolução do quadro clínico. Os resultados podem ser obtidos em 24 ou 48 horas.
Para a pesquisadora, a ausência de um exame similar é o que dificulta o conhecimento aprofundado do comportamento do vírus e o direcionamento médico mais adequado. Com o novo método, no entanto, é possível resolver esses problemas.
"A partir do resultado, você consegue auxiliar na conduta clínica desse paciente. Avaliar se vai ser necessário um tratamento ou se vai ser necessário um monitoramento. Pode ser marcada uma consulta em seis meses para ver como está a evolução da doença”, declarou Deusilene à Agência Brasil.
Hepatite D
Assim como os outros tipos de hepatite, a Delta também afeta o fígado. Sua transmissão acontece pelo contato com sangue e outros fluidos corporais de uma pessoa contaminada, que pode ocorrer por meio do uso dos mesmos materiais de higiene pessoal, da transfusão de sangue, do compartilhamento de seringas e de relações sexuais sem preservativo.
Segundo o Ministério da Saúde, a hepatite D se desenvolve quando o organismo da pessoa infectada carrega também o vírus da hepatite B, pois o vírus da hepatite D necessita de um antígeno existente no vírus da hepatite B para se replicar.
Sintomas
De acordo com Deusilene Dallacqua, a doença, em sua forma crônica, costuma ser silenciosa. Porém, em sua forma aguda, apresenta sintomas como pele amarelada, vômito, enjoo e mal-estar. Em alguns desses casos, pode ocorrer a evolução para a chamada hepatite fulminante.
Não existem vacinas específicas para o vírus da hepatite D, mas a imunização contra a hepatite B atua na prevenção da doença.
Amazônia é foco da doença
Endêmica na Amazônia, dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2020 e 2021, foram diagnosticados 4.259 casos de hepatite D no Brasil, dos quais 73,7% foram na Região Norte.
No entanto, há uma subnotificação da doença no país, afirma Deusilene Dallacqua. Mesmo o exame tradicional, que detecta apenas os anticorpos, só está disponível em estados endêmicos e, inclusive nesses locais, a população diagnosticada representa somente parcela dos casos.
A pesquisadora estima que apenas no Acre e em Rondônia há aproximadamente 2 mil pessoas com hepatite D em sua forma crônica, quando a infecção dura mais de seis meses.
"O portador crônico pode ser um portador para o resto da vida. Mas também podem ter evoluções. Pode evoluir para uma fibrose ou uma cirrose. E uma pequena parcela pode evoluir para um hepatocarcinoma celular, um câncer hepático", explica.